O Melhor de Mim
Música: Wings - Birdy
A lua minguava.
Dentro de mim, algo crescia. Naquele momento, nada me faria melhor do que a luz
do Sol, mas eu precisava me contentar com o brilho das estrelas e das poucas
luzes acesas na cidade. Meu corpo pedia o chão, minha alma clamava o céu. Eu parecia
estar longe de mim mesmo, por tanto tempo que sequer conseguia calcular.
Eu precisava de
um recomeço, de um novo rumo. Eu queria poder voar, da forma mais majestosa que
eu conseguisse, para um lugar que só eu conhecesse. E lá estava eu, sozinho, em
meio ao vazio e a escuridão da noite, iluminado por tão poucas coisas, mas
conseguindo enxergar, pela primeira vez em eras, o que eu mais precisava ver: o
meu eu.
Consegui, naquele
momento, enxergar tudo aquilo que fui, o que poderia ter sido e no que eu havia
me tornado. As mágoas não eram mais tão dolorosas, tornaram-se aprendizado. Os
amores – mesmo os mais cruéis – tornaram-se boas lembranças de um período onde
eu era feliz. Os amigos e parentes – e todos aqueles que um dia me machucaram –
ganharam espaço no canto de uma doce saudade que eu buscava rejeitar.
Tudo aquilo,
todas as dores e amores, fazia parte de mim. Todas aquelas coisas me levaram ao
meu eu de agora, ali, deitado numa grama verde e incômoda numa noite qualquer,
iluminado por poucas estrelas e por raras luzes. E então, havia motivos para me
arrepender? De que adiantaria ter sido correspondido no primeiro amor, se eu
não pudesse ter a chance de viver o último e/ou mais intenso? De que adiantaria
não ter sido traído por tantos amigos, se eu não pudesse ter as boas lembranças
que pude compartilhar com todos eles? De que adiantaria mudar todo o meu
passado e viver apenas os momentos felizes, se eu não pudesse hoje ser esse
eu-orgulho, maduro, repleto de amor – não somente em si – e de tudo aquilo que
um dia sonhei pra mim? De que adiantaria ter sido tão feliz, se eu não pudesse
ter me tornado aquilo que sou e que hoje considero a melhor versão de mim?
Creio que com o
passar dos anos, pouco a pouco, vamos perdendo um pouco da nossa essência,
vamos ganhando novos aromas, deixando outros nos escaparem. Como uma mistura de
fragrâncias elaborada por um alquimista qualquer.
Hoje eu sorri.
Mesmo com aquelas formigas que devoravam meu corpo naquela grama, eu sorri.
Sorri porque tentei, pela primeira vez em tanto tempo, me permitir sentir tudo
aquilo que eu devia, queria e podia sentir. Hoje eu amei. Amei a mim mesmo como
há muito eu não fazia. Sem arrependimentos, sem mágoas, sem buscar explicar
tudo de uma forma racional. Hoje eu vivi. Vivi em mim mesmo, no meu melhor e no
meu pior. Vivi em meio a inúmeros sorrisos e lágrimas. E creio eu que, quando
eu estiver no melhor de mim – quem sabe aos meus setenta ou oitenta anos – eu
possa experimentar novamente essa sensação, cansado, desejando repousar o corpo
numa grama qualquer, olhando para o céu e deixando minha alma ir em sua
direção, sem que nada pudesse me prender. Sendo livre, como sempre quis, como
sempre fui. Sendo o melhor de mim.
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