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Mostrando postagens de dezembro, 2020

Sentimento #020 – Amores Eternos

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  “O amor eterno é o amor impossível. Os amores possíveis começam a morrer no dia em que se concretizam.” - Eça de Queirós Durante boa parte da minha vida, acreditei que o amor era algo eterno. Parecia ser um vínculo vitalício e que aquelas palavras significavam muito mais do que uma mera convenção. Para mim, dizer “Eu te amo!” era como um atestado de “Estarei ao teu lado até o fim das nossas vidas”. Não foi bem assim. Não digo aqui que não existam amores que durem toda uma vida. Talvez eles existam, talvez estejam pelo mundo afora. O que tento dizer é que talvez eles sejam mais raros do que pareçam ser. Não são a regra, mas a exceção. Gosto dos amores. Sejam eles longos ou curtos, intensos ou não. A verdade é que, para além de toda a idealização que envolve o amor romântico, o mesmo se dá na realidade, no cotidiano, com todas as nossas imperfeições e medos e angústias e aflições. No fim das contas, acho que o amor seja mais sobre uma tentativa de estar ao lado de alguém do que

Enfim, o Fim

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Por mais que eu odeie o velho clichê de pensar no lado positivo de todas as coisas, sinto que 2020 tenha tido um efeito terrivelmente benéfico em mim. Apesar do isolamento, do risco de contágio, das mortes, do número de pessoas que adoeceram; falo num sentido um pouco mais íntimo. Falo aqui para além da minha necessidade de desacelerar ou de descansar. Inicialmente, eu cheguei a pensar que talvez pudéssemos sair melhores de tudo isso, que as pessoas milagrosamente iriam se tornar mais humanas e altruístas – e, sinceramente, tenho visto o contrário. Na verdade, enquanto eu me via trancado em casa, no meu quarto, na minha sala, passei pelos mais variados estágios. Da tristeza profunda à autorrealização. Da ansiedade intensa à paz espiritual. Aos poucos, fui aprendendo, durante esse ano, a tentar focar um pouco mais em mim, nas minhas dores, nas minhas angústias e, também, naquilo que me faz feliz. Acho que a ideia de se isolar pode trazer consigo essa reflexão. Quando estamos sozinhos po

Dica de Série: The Good Place (2016)

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“The Good Place” é uma série de comédia lançada em 2016 pela NBC e criada por Michael Schur. A trama conta a história de Eleanor Shellstrop (Kristen Bell), uma mulher que morre no estacionamento de um supermercado e vai parar no “Bom Lugar”. Lá, ela é recebida por Michael (Ted Danson), o arquiteto responsável pela vizinhança, e informada de que a sua alma gêmea se encontra no mesmo lugar, o professor de Filosofia Moral Chidi Anagonye (William Jackson Harper). Além disso, Eleanor passa a conviver também com a socialite Tahani Al-Jamil (Jameela Jamil) e a sua alma gêmea, o monge Jianyu Li (Manny Jacinto). O problema é que Eleanor tem certeza de que foi enviada para o lugar errado, uma vez que ela não era uma boa pessoa em vida. A partir disso, e com a ajuda de Chidi, ela tenta se tornar alguém melhor para que possa ser merecedora de permanecer naquele lugar. COMENTÁRIO : Mesmo tratando de uma temática delicada – a morte –, “The Good Place” faz uma excelente análise sobre o pós-vida e com

Sentimento #019 - Por trás da Dor

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“Nenhuma droga acaba com a dor.” – Fritz Perls (em Ego, Fome e Agressão) Com tudo o que já vivi até hoje, sou capaz de concordar com Perls. Nenhuma droga é capaz de acabar com a dor. Das que pude experimentar e/ou conhecer, nem as pílulas nem o álcool foram capazes de acabar com a dor. O amor – uma outra droga tão poderosa quanto alguns medicamentos – creio que tenha sido o mais cruel e forte de todos. Quando acabou, me deixou com uma imensa abstinência, uma dor excruciante, calafrios, pensamentos catastróficos... Nem mesmo o amor foi capaz de acabar com a dor – logo ele, que sempre achei tão poderoso. Creio que, no fim das contas, a única coisa capaz de acabar com aquilo que dói em nós é a aniquilação daquilo que nos fere. Diante disso, agora, anos depois, ainda me resta uma inquietante pergunta: como eu serei capaz de acabar com essa dor? E o mais importante: o que é que tanto é capaz de me ferir?

O Novo Natal

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Quando eu era pequeno, eu amava o Natal. Antes mesmo de novembro chegar, eu costumava pegar a velha árvore e montá-la na sala. Era um verdadeiro espetáculo. Bolas, luzes, presépio, falsos presentes... Tudo para que aquilo ficasse o mais bonito possível. Embora eu viajasse todos os anos, eu me sentia satisfeito e feliz por ter aquele pequeno momento especial. Assim que eu via as ruas enfeitadas e as músicas tocando nas lojas, meu coração se enchia de alegria pelo simples fato de ser o Natal. Não era pelo presente, pela viagem, pelo fim das aulas... Era uma sensação doce e gostosa. Uma sensação única que me fazia me sentir num dos momentos mais especiais da minha vida a cada ano. Eu amava receber os presentes – isso não nego. Fossem jogos, carros, meias, roupas ou qualquer tipo de brinquedo, eu os agradecia com a mesma felicidade. Então, nos dias que se seguiam ao Natal, eu me via brincando incansavelmente. Era um momento feliz. Não sei quando foi que tudo começou a mudar. Acho que

Dica de Filme: Se Algo Acontecer... Te Amo (2020)

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Na esteira do tiroteio em uma escola, as lembranças são tudo o que resta aos pais afetados pela tragédia. * COMENTÁRIO : Não me lembro ao certo quem me indicou este filme, mas agradeço aqui publicamente a essa pessoa. “Se Algo Acontecer... Te Amo.” é um curta metragem de 12 minutos lançado em 2020 pela Netflix. O filme me lembra um pouco algumas obras antigas. É uma animação em 2D sem falas e, mesmo que estejamos acostumados com tecnologias mais modernas, o filme não peca em absolutamente nada. A sutileza das cenas, dos traços das personagens, a trilha sonora... Enfim... Tudo de encaixa perfeitamente. Mesmo sendo uma obra que fale sobre a morte – e, nesse caso, uma morte trágica –, o filme consegue nos passar a história com perfeição, aquecendo os nossos corações e, também, nos emocionando. * Sinopse disponibilizada pela Netflix. Avaliação no IMDb – 7,9/10 Avaliação no Rotten Tomatoes – 100% Classificação: 14 anos Duração: 12 min Direção: Will McCormack Trailer:   Pôster:

Sentimento #018 – Nossa Responsabilidade

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“Não importa o que fizeram de mim, o que importa é o que faço com o que fizeram de mim.” - Jean-Paul Sartre A primeira vez em que ouvi essa frase de Sartre, me incomodei. Parecia algo errado. Como assim não importa o que as outras pessoas me fazem? E o que eu sinto? E as minhas dores? Demorou um pouco para que eu pudesse perceber que essa era uma das mais duras verdades com a qual eu poderia me deparar. Na verdade, Sartre não me parece isentar, nessa frase, as outras pessoas dos seus erros, mas busca afirmar que, independente do que elas façam, somos nós os únicos responsáveis pelas rédeas das nossas vidas. Acho que talvez essa seja a maior perturbação provocada pelo existencialismo no mundo moderno: nos é dada a responsabilidade que tanto procuramos atribuir aos outros. Constantemente buscamos alguém para culpar por tudo aquilo que não acontece conforme esperamos. Criamos expectativas, elas não se realizam e então tendemos a acusar o destino, um amigo, um colega, um familiar,

Culpa

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  Parece ser difícil reconhecer a própria culpa. Na maioria das vezes, acabamos por buscar bodes expiatórios, pessoas ou “entidades”, a quem queremos atribuir a culpa por uma determinada situação. Foi alguém, foi o signo, foi o inferno astral, foi Deus ou o diabo... Talvez, até mesmo, o destino. Ultimamente tenho pensado muito sobre a culpa. Obviamente, ao longo da minha vida, já fiz muitas coisas das quais me arrependo. Eu me arrependo de não ter tentado, de ter tentado, de ter esquecido, de ter deixado de lado, mas o que mais me causava dor era o fato de simplesmente saber que algum dia eu possa ter machucado alguém. Acho que, por eu ter passado boa parte da minha vida tentando agradar as pessoas ao meu redor, acabei desenvolvendo uma certa tendência a aceitar, a obedecer, a não me incomodar. Era um comportamento cruel e autodestrutivo. Porém, mesmo assim, vez ou outra, eu me via sendo o responsável pelas lágrimas ou pelo sofrimento de alguém. Um dia, ao conversar com uma coleg

Dica de Livro: Dom Casmurro (1899)

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Do auge de sua velhice, Dom Casmurro – apelido dado ao advogado Bento Santiago – conta ao leitor a sua história de amor ao lado da bela Capitu. Ambos se conheceram na infância, mas o amor entre eles era proibido, justamente por causa de uma promessa feita pela mãe de Bentinho: de que se aquele filho nascesse, ela o faria padre. Mesmo com os empecilhos, Bentinho e Capitu conseguem se casar, realizando o sonho de infância de ambos. Porém, com a chegada do filho do casal, Ezequiel, Bentinho passa a desconfiar de que o garoto possa ser filho do seu melhor amigo, Escobar, deixando uma enorme questão não apenas em sua cabeça, mas também no imaginário popular: afinal de contas, Capitu traiu ou não traiu? COMENTÁRIO: A grande pergunta que “Dom Casmurro” nos traz é sobre a suposta traição de Capitu. Creio que, talvez, por isso, a obra tenha ganhado o coração dos leitores justamente pelo suspense trazido em torno dessa questão. Porém, ao meu ver, “Dom Casmurro” não se trata da suposta traição

Sentimento #017 – Nossas Máscaras

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  “Nunca se sabe quem são as pessoas. Elas usam máscaras e são como iceberg. Só mostram o que lhes convém mostrar ou o que desejam que venha à tona. Se, durante toda a sua vida, você chegar a conhecer meia dúzias de pessoas, considere-se um afortunado.” – Dorothy Gilmam Em sua teoria psicológica, Carl Gustav Jung definiu que um dos arquétipos que constituem a nossa personalidade é a persona. Trata-se daquilo que mostramos ao mundo, como uma máscara, um personagem. Acredito que é impossível sermos quem somos em nossa totalidade a todo momento. Às vezes por necessidade, às vezes por obrigação, às vezes por querer... Simplesmente criamos certos personagens, figuras feitas sobre e a partir de nós para mediar o nosso contato com o mundo. Vários Eus que se mesclam em uma totalidade única e impossível de ser totalmente decifrada. Acho que talvez isso seja o mais fascinante – e, também, o mais perturbador – da existência humana. Somos, em nós mesmos, uma infinidade de possibilidades, d

(In)suficiência

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Ultimamente tenho me sentido como se a conexão estivesse caindo. Parece que a minha voz e a minha imagem estão congeladas e ninguém consegue me ouvir. Fico repetidamente tentando encontrar algum sinal de que tenho sido escutado, mas nada... Ninguém me ouve. Ninguém me vê. Talvez eu já devesse estar acostumado a isso. Sempre foi assim. Eu e o mundo. Uma relação nada fácil, onde o mundo sempre parece estar distante e eu... Sozinho. É como se eu estivesse sozinho. Falo, grito, peço, imploro, suplico. Nada. Ninguém me ouve. Ou melhor, ninguém parece querer me ouvir. Ninguém parece querer me enxergar. Aos poucos vou sentindo como se a minha imagem fosse desaparecendo lentamente. Como se eu deixasse de ter importância, como se nada do que eu fizesse fosse bom o suficiente, como se eu não fosse inteligente o suficiente, interessante o suficiente, legal o suficiente, bonito o suficiente. Nunca nada está bom... Eu nunca estou bom. Eu sempre estou só. Já me questionei inúmera

Dica de Livro: Objetos Cortantes (2006)

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Camille Preaker é uma jornalista que vive em Chicago e que, a pedido de seu editor, retorna a sua cidade natal para investigar o assassinato de uma garota e o desaparecimento de outra. Ao chegar lá, Camille precisa reaprender a viver com sua mãe, seu padrasto e sua meia-irmã. Enquanto busca descobrir o que aconteceu com as duas garotas, Camille acaba tornando-se mais envolvida do que esperava na história, ao mesmo tempo em que fantasmas do passado voltam a assombrá-la. COMENTÁRIO: Comprei “Objetos Cortantes” em 2016 e o devorei em menos de 48h. O livro é da mesma autora do fenômeno “Garota Exemplar”, adaptado para os cinemas em 2014. A trama de “Objetos Cortantes” é bastante instigante. Camille é uma protagonista desacreditada na própria capacidade e acaba de sair de uma internação em um hospital psiquiátrico. Seu corpo é marcado por autolesões em formato de palavras escritas sobre sua pele com objetos cortantes. Ao voltar para casa, é possível identificar como a sua relação com Ador

Sentimento #016 – O Significado do Amor

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  “Você só saberá realmente o que é o amor, quando lhe perguntarem sobre ele e você não pensar em uma definição, mas em um nome.” - Bob Marley Uma das maiores questões que tenho em minha vida é sobre o verdadeiro significado do amor. Já ouvi várias histórias, já li inúmeros livros e textos, mas nada nem ninguém fora capaz de me fazer conseguir explicar, em palavras, sobre o que é realmente amar alguém. Acredito que o amor esteja, talvez, nos pequenos gestos, nas simples palavras ditas, em sorriso e olhares, em uma preocupação cotidiana, em um querer cuidar, em um se deixar ser cuidado... Acredito que o amor é sobre confiar, sobre se permitir, sobre ouvir, mas também sobre escutar. Amar nunca me fora algo dispensável. Pelo contrário, sempre sonhei em amar, em viver uma daquelas grandes histórias de amor dignas de um filme com um beijo intenso debaixo da chuva. Aos poucos fui descobrindo que esse processo de amar não é tão simples quanto parece; que eu, e, também, as outras pessoas, somo