Culpa
Parece ser difícil reconhecer a
própria culpa. Na maioria das vezes, acabamos por buscar bodes expiatórios,
pessoas ou “entidades”, a quem queremos atribuir a culpa por uma determinada
situação. Foi alguém, foi o signo, foi o inferno astral, foi Deus ou o diabo...
Talvez, até mesmo, o destino.
Ultimamente tenho pensado muito
sobre a culpa. Obviamente, ao longo da minha vida, já fiz muitas coisas das
quais me arrependo. Eu me arrependo de não ter tentado, de ter tentado, de ter
esquecido, de ter deixado de lado, mas o que mais me causava dor era o fato de
simplesmente saber que algum dia eu possa ter machucado alguém.
Acho que, por eu ter passado boa
parte da minha vida tentando agradar as pessoas ao meu redor, acabei
desenvolvendo uma certa tendência a aceitar, a obedecer, a não me incomodar.
Era um comportamento cruel e autodestrutivo. Porém, mesmo assim, vez ou outra,
eu me via sendo o responsável pelas lágrimas ou pelo sofrimento de alguém.
Um dia, ao conversar com uma
colega, ela me disse que vivemos machucando e sendo machucados. De fato, ela
estava certa. Porém, a culpa era algo que me martirizava, que me consumia mais
do que tudo. Demorou um tempo para eu perceber que, nesse eterno
machucar-e-ser-machucado, o mais importante não é simplesmente a evitação das
mágoas, mas sim o que fazemos diante delas.
Depois que consegui perceber
isso, acabei me tornando um pouco mais leve do que eu era. Sem aquele peso que
me consumia por simplesmente ter machucado alguém. Acho que, talvez, muitas
vezes o ato de machucar é algo natural pelo fato de não conseguirmos e de nem
sempre sermos capazes de atender às demandas ou desejos dos outros.
Talvez seja por isso que, nos últimos tempos, tenho me permitido sentir a culpa simplesmente daquilo que faço e que machuca os outros, tentando perceber os meus erros e corrigi-los. É difícil perceber que não somos responsáveis pelas expectativas criadas pelas outras pessoas, muito menos somos obrigados a cumpri-las. Acho que essa foi uma das coisas mais benéficas que pude fazer a mim mesmo: saber que nem sempre machuco os outros por querer, mas simplesmente por não ser ou agir da forma com eles querem.
Comentários
Postar um comentário