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Mostrando postagens de fevereiro, 2021

Um Ser Só

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Às vezes eu me sinto como um barco à deriva, em busca de uma direção, de um porto, de algo que me faça me sustentar, me firmar. Clamo pela terra firme, mas ela parece estar cada vez mais distante. Sempre me senti só. Nunca fui o tipo de pessoa que tem uma porção de amigos. No fim das contas, eu só podia contar comigo mesmo. Por mais que tivessem pessoas ao meu lado, eu continuava só. Sem rumo. Sem direção. Sem suporte. Em mim, havia um certo clamor: eu queria fazer parte. Queria ser como os outros garotos, as outras crianças, os outros adolescentes, os outros adultos... Sempre desejei ser alguém. Alguém maior do que eu parecia ser. Tentava seguir, tentava me adaptar, me moldar, mas nada parecia fazer sentido. Eu nunca era alguém ali. Nunca. As minhas inseguranças, as minhas questões, os meus medos, todos eles pareciam gritar comigo. Ninguém parecia me querer ali. Ninguém... Era doloroso saber que eu não fazia parte, que eu não era uma opção, que eu jamais seria escolhido. Doía. E como

Dica de Série: Grace and Frankie (2015)

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Grace (Jane Fonda) e Frankie (Lily Tomlin) estão encarando a temida "3ª idade", mas não da forma que imaginavam. Quando os seus respectivos maridos revelam que estão apaixonados um pelo outro, e planejam se casar, a vida delas é virada de cabeça para baixo. Agora, elas estão ligadas eternamente por esse acontecimento e, já rivais, descobrirão que podem ter que tomar conta uma da outra. Classificação: 16 anos. Número de Episódios: 78 episódios (6 temporadas – 7ª e última encomendada). Elenco: Jane Fonda, Lily Tomlin, Martin Sheen, Sam Waterston, June Diane Raphael, Brooklyn Decker e outros. Trailer:  Pôster: 

Sentimento #028 – Deus e o Tempo

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  “– Mas se os senhores não ignoram Deus, por que não falam nele? – perguntou o Selvagem, indignado.  Por que não permitem a leitura desses livros sobre Deus? – Pela mesma razão por que não apresentamos Otelo: eles são antigos. Tratam de Deus tal qual era há centenas de anos, não de Deus como é agora. – Mas Deus não muda. – Acontece que os homens mudam.” – Aldous Huxley (em Admirável Mundo Novo) Eu acredito em Deus. Não penso nele como uma criança malvada que fica diante de um formigueiro tentando queimar com uma lupa aquelas que não fazem o seu trabalho. Não... Eu nunca acreditei em um Deus assim. Na verdade, desde pequeno, fui educado dentro de uma determinada religião. Depois, me afastei e fui para outra. Depois, me afastei novamente e me abri a conhecer outras... A verdade é que a palavra de Deus parece ser a mesma em todas elas. De um lado temos o Deus do amor universal, o Deus benéfico e que ama a todos os seus filhos e filhas. De um outro lado, parece haver nos discu

Amigos e Adeus

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Dia desses, eu chorei. Ao pegar o celular em minhas mãos, vi algo que me machucou profundamente. Nunca pensei em falar sobre isso... Mas talvez eu precise. É. Eu preciso falar. Sempre tentei ser um bom amigo. Sempre tentei ser aquela pessoa que “está lá” quando alguém precisa. Sempre tentei ser aquela pessoa parceira, companheira, divertida. Por muito tempo, eu pensei que havia algum problema comigo. Por mais que eu tentasse, por mais que eu me esforçasse, eu parecia não ser suficiente. Sempre faltava algo em mim. Sempre havia algo em mim que não fazia sentido, que deveria ser omitido. Era como se eu precisasse me adequar a um modo de ser pré-estabelecido para poder alcançar o status de “amigo”. Óbvio. Ao longo da minha vida tive bons e grandes amigos. Pessoas que, por mais que o tempo e a distância nos afastassem, continuavam a ser aqueles mesmos rostos amigos de antes. Talvez com algumas poucas mudanças, mas, mesmo assim, algo permanecia. Aquele laço de antes ainda estava ali. Não er

Dica de Livro: Como Eu Era Antes de Você (2013)

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Louisa Clark mora com os pais, a irmã mãe solteira, o sobrinho pequeno e um avô que precisa de cuidados constantes desde que sofreu um derrame. Ela trabalha como garçonete num café, um emprego que não paga muito, mas ajuda nas despesas, e namora Patrick, um triatleta que não parece interessado nela. Quando o café fecha as portas, Lou é obrigada a procurar outro emprego. Sem muitas qualificações, consegue trabalho como cuidadora de um tetraplégico. Will Traynor, de 35 anos, é inteligente, rico e mal-humorado. Preso a uma cadeira de rodas depois de um acidente de moto, o antes ativo e esportivo Will desconta toda a sua amargura em quem estiver por perto. Tudo parece pequeno e sem graça para ele, que sabe exatamente como dar um fim a esse sentimento. O que Will não sabe é que Lou está prestes a trazer cor a sua vida. E nenhum dos dois desconfia de que irá mudar para sempre a história um do outro. Autora: Jojo Moyes Capa: 

Sentimento #027 – Mudanças

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“Toda mudança é uma ameaça à estabilidade.” – Aldous Huxley (em Admirável Mundo Novo) Temos medo de mudar. Nosso organismo vive em prol da homeostase. Quando há uma infecção, a nossa temperatura corporal se eleva numa tentativa de combater àquela perturbação. Quando estamos com frio, começamos a tremer involuntariamente para que possamos, assim, nos aquecer. Não é apenas o nosso corpo que funciona assim. A sociedade, as organizações... Toda mudança assusta, altera a estrutura, e, caso ela seja inesperada, há uma perturbação maior ainda. Mudar requer coragem. Uma coragem necessária que nos impulsione a sair da zona de conforto – onde estamos seguros, em paz, em uma homeostase parcial. Mudar, se abrir à mudança, requer uma confiança maior não apenas em nós mesmos, mas, também, em tudo aquilo que nos cerca.  

Doce Infância

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Hoje eu senti falta do passado. Ao ouvir uma música, fui levado imediatamente à minha infância, ao cheiro da garagem da minha casa sendo lavada enquanto eu ouvia músicas do Sítio do Pica-Pau Amarelo e imaginava viver em um mundo repleto de fantasia... Lembrei das minhas brincadeiras, dos meus bonecos e carros, das histórias que eu lia, das que eu inventava... Tudo parecia ser tão mais fácil. Lembro dos dias de chuva, quando, ao final da tarde, eu corria até a padaria para comprar pão e, ao chegar em casa, tomava um banho quente, vestia uma calça de moletom, coloca meias nos pés e ficava debaixo da coberta assistindo a qualquer filme que estivesse passando na televisão. Lembro das manhãs das minhas férias, quando eu acordava cedo para comer e ficava esperando dar o horário dos desenhos animados. À tarde, eu me sentava em frente à estante da sala de jantar e ficava ali brincando com meus bonecos. A mocinha indefesa, o herói que havia perdido uma das pernas e que eu nunca conseguia manter

Dica de Filme: O Aviso (2018)

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Jon (Raúl Arévalo) é um gênio incompreendido da matemática, cujo futuro promissor foi solapado por um diagnóstico de esquizofrenia. Quando ele presencia um assalto no qual seu amigo, David (Sergio Mur), é baleado, a antiga paixão pela ciência é acesa novamente. Comovido pela eminente morte de seu amigo, o jovem passa a investigar a ligação entre diversos roubos anteriores e descobre um padrão matemático entre eles. Segundo seus cálculos, a próxima vítima será Nico (Hugo Arbues), um garoto inocente de 10 anos. Classificação: 14 anos. Duração: 1h32min Elenco: Raúl Arévalo, Hugo Arbúes, Belén Cuesta, Aitor Luna, Aura Garrido, Antonio Dechent e outros. Direção: Daniel Calparsoro. Trailer:  Pôster:

Sentimento #026 – Entre Cancelamentos e Linchamentos Virtuais

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“Todos os moralistas estão de acordo que o remorso crônico é um sentimento dos mais indesejáveis. Se uma pessoa procedeu mal, arrependa-se, faça as reparações que puder e trate de comportar-se melhor na próxima vez. Não deve, de modo nenhum, pôr-se a remoer suas más ações. Espojar-se na lama não é a melhor maneira de ficar limpo.” – Aldous Huxley (em Admirável Mundo Novo) Uma das coisas que tenho percebido nos últimos tempos é como a cultura do cancelamento tem se tornado um verdadeiro mal em nossa sociedade. Até pouco tempo atrás, clamávamos pelos direitos dos presos, pelo direito da reinserção na sociedade, pelas críticas ao sistema carcerário e como ele é altamente cruel. Agora, nos vemos diante de uma nova cultura, uma caça às bruxas moderna em que um erro – por menor que ele seja – ganha dimensões estratosféricas (não removendo aqui a gravidade de muitos deles). Tornamo-nos acusadores, juízes e executores. Não parece haver mais a liberdade de reconhecer os próprios erros, de tenta

Felicidade Passageira

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Era junho. Tudo estava diferente. Eu estava diferente. Os sorrisos eram constantes, os pequenos instantes de felicidade também. Eu me olhava no espelho e conseguia admirar a pessoa que me tornei. No fim, tudo mudou. Talvez eu devesse ter seguido como eu era até então. Talvez eu devesse ter segurado a onda e acreditado que tudo aquilo não passava de um momento, mas não. Eu e essa minha mania de acreditar que a felicidade chega e se torna algo constante. Assim que eu permiti que ela entrasse, tudo mudou. As coisas ficaram mais leves, eu parecia estar vivendo em um conto de fadas. Quando tudo acabou, o vazio ficou ainda maior. Era como se eu tivesse conquistado algo que eu almejara durante tanto tempo que nem me lembrava mais de como tudo aquilo começou. Foi então que eu me vi com aquele pequeno pedaço de felicidade em minhas mãos. Como era leve, doce... Como eu me sentia em paz. Então tudo mudou. Os dias tornaram-se escuros novamente. O sol parou de brilhar. Os sorrisos tornaram-se escas

Dica de Série: Atypical (2017)

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Sam (Keir Gilchrist) é um jovem no espectro autista de 18 anos que está em busca de sua própria independência. Nesta jornada, repleta de desafios, mas que rende algumas risadas, ele e sua família aprendem a lidar com as dificuldades da vida e descobrem que o significado de "ser uma pessoa normal" não é tão óbvio assim. Classificação: 14 anos Número de Episódios: 28 episódios (3 temporadas – 4ª e última encomendada). Elenco: Keir Gilchrist, Brigette Lundy-Paine, Jennifer Jason Leigh, Michael Rapaport, Nik Dodani e outros. Trailer:  Pôster:

Sentimento #025 – SER Diferente

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“Se uma pessoa é diferente, é fatal que se torne solitária. A gente é tratado de um modo abominável.” – Aldous Huxley (em Admirável Mundo Novo) É muito difícil se sentir diferente das outras pessoas. Não trago aqui a diferença num sentido de se considerar “melhor” ou “pior” do que alguém, mas no sentido de se sentir deslocado, alheio. Isso se torna um verdadeiro jogo de forças. De um lado, somos seres sociais buscando viver no meio de outras pessoas; do outro lado, temos aquela necessidade básica de sermos quem realmente somos. O problema é que, muitas vezes, parecemos não nos encaixar e tentamos, de todas as formas, pertencer, mesmo que, para isso, tenhamos que anular partes nossas, do que realmente somos. A verdade é que se sentir diferente, ser diferente, não é algo errado. Trata-se de uma simples forma de ser. Infelizmente, não estamos acostumados a lidar com aquilo que diverge da maioria. Somos forçados, constantemente, a seguir uma norma – de como ser, de como se vestir,