Doce Infância

Hoje eu senti falta do passado. Ao ouvir uma música, fui levado imediatamente à minha infância, ao cheiro da garagem da minha casa sendo lavada enquanto eu ouvia músicas do Sítio do Pica-Pau Amarelo e imaginava viver em um mundo repleto de fantasia... Lembrei das minhas brincadeiras, dos meus bonecos e carros, das histórias que eu lia, das que eu inventava... Tudo parecia ser tão mais fácil.

Lembro dos dias de chuva, quando, ao final da tarde, eu corria até a padaria para comprar pão e, ao chegar em casa, tomava um banho quente, vestia uma calça de moletom, coloca meias nos pés e ficava debaixo da coberta assistindo a qualquer filme que estivesse passando na televisão. Lembro das manhãs das minhas férias, quando eu acordava cedo para comer e ficava esperando dar o horário dos desenhos animados. À tarde, eu me sentava em frente à estante da sala de jantar e ficava ali brincando com meus bonecos. A mocinha indefesa, o herói que havia perdido uma das pernas e que eu nunca conseguia manter no lugar por muito tempo.  

Não sei direito quando foi que aquela magia toda se dissipou. Na verdade, acho que ela ainda está aqui. Talvez agora esteja sendo direcionada a outros destinos, mas, mesmo assim... Ela ainda está aqui. Ainda consigo enxergar em mim aquele mesmo garoto sonhador de outrora. Mesmo assim, há uma diferença gritante – e ela está para além da minha altura atual ou da minha barba –, é como se algo tivesse sido perdido. Como se aquele olhar doce, ingênuo e cheio de sonhos tivesse se dissipado...

Talvez crescer seja assim. A realidade e o mundo ao nosso redor parecem agir cada vez com mais força sobre nossos corpos, sobre nossos posicionamentos. Percebemos que nem tudo é como nos contos de fadas, que nem sempre há finais felizes... Tudo é muito mais difícil de lidar quando crescemos.

Às vezes eu penso... Como eu gostaria de poder voltar no tempo e reviver tudo aquilo que eu vivi antigamente. Todas aquelas brincadeiras e desenhos animados, todos os livros e histórias inventadas... Eu era feliz e não sabia. Talvez, se eu tivesse a noção de como a vida adulta poderia ser cruel, eu teria aproveitado o máximo que eu pudesse de cada minuto da minha infância. Talvez essa seja a maior crueldade da vida adulta... É saber que, independente do que seja, independente do que aconteça, nós nunca poderemos voltar a viver tudo aquilo. 

 

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