Sentimento #026 – Entre Cancelamentos e Linchamentos Virtuais

“Todos os moralistas estão de acordo que o remorso crônico é um sentimento dos mais indesejáveis. Se uma pessoa procedeu mal, arrependa-se, faça as reparações que puder e trate de comportar-se melhor na próxima vez. Não deve, de modo nenhum, pôr-se a remoer suas más ações. Espojar-se na lama não é a melhor maneira de ficar limpo.”

– Aldous Huxley (em Admirável Mundo Novo)

Uma das coisas que tenho percebido nos últimos tempos é como a cultura do cancelamento tem se tornado um verdadeiro mal em nossa sociedade. Até pouco tempo atrás, clamávamos pelos direitos dos presos, pelo direito da reinserção na sociedade, pelas críticas ao sistema carcerário e como ele é altamente cruel.

Agora, nos vemos diante de uma nova cultura, uma caça às bruxas moderna em que um erro – por menor que ele seja – ganha dimensões estratosféricas (não removendo aqui a gravidade de muitos deles). Tornamo-nos acusadores, juízes e executores. Não parece haver mais a liberdade de reconhecer os próprios erros, de tentar recomeçar...

Não sei se o tal cancelamento nada mais é do que o reflexo de uma sociedade cansada – exausta, para falar a verdade – que ainda tenta, de todas as formas, lutar contras as diversas formas de injustiças e preconceitos. Deve-se sim, a partir dos erros, abrir o espaço para debates, discussões, mas o linchamento virtual não me parece ser a única – e muito menos a melhor – saída.

Lutamos tanto contra a política de extermínio contra aqueles que cometem crimes – a pena de morte – que parece que temos criado uma saída para o nosso eterno desejo de fazer justiça com as próprias mãos. O linchamento virtual me parece ser uma prática de extermínio que não ouve, apenas atira e parece acreditar que as pessoas não são capazes de mudar. 

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