Amigos e Adeus
Dia desses, eu chorei. Ao pegar
o celular em minhas mãos, vi algo que me machucou profundamente. Nunca pensei
em falar sobre isso... Mas talvez eu precise.
É.
Eu preciso falar.
Sempre tentei ser um bom amigo.
Sempre tentei ser aquela pessoa que “está lá” quando alguém precisa. Sempre
tentei ser aquela pessoa parceira, companheira, divertida.
Por muito tempo, eu pensei que
havia algum problema comigo. Por mais que eu tentasse, por mais que eu me
esforçasse, eu parecia não ser suficiente. Sempre faltava algo em mim. Sempre
havia algo em mim que não fazia sentido, que deveria ser omitido. Era como se
eu precisasse me adequar a um modo de ser pré-estabelecido para poder alcançar
o status de “amigo”.
Óbvio. Ao longo da minha vida
tive bons e grandes amigos. Pessoas que, por mais que o tempo e a distância nos
afastassem, continuavam a ser aqueles mesmos rostos amigos de antes. Talvez com
algumas poucas mudanças, mas, mesmo assim, algo permanecia. Aquele laço de
antes ainda estava ali. Não era preciso estar junto o tempo todo.
Apesar disso, sempre houve em
mim uma sensação estranha. Eu nunca parecia fazer parte de algo. Ou eu era a
última opção para um jogo, ou eu não era convidado para tomar um sorvete entre
amigos, ou eu não era visto como uma escolha para um determinado projeto. E
isso doía.
Doía muito.
E ainda dói.
Como todo e bom pessimista, eu
acreditava haver algum problema maior comigo. Talvez eu fosse uma pessoa ruim.
Talvez eu não fosse alguém agradável para se conviver. Talvez eu não fosse
esperto o suficiente. Talvez eu não fosse descolado o suficiente.
Nunca eu parecia me encaixar.
Nunca eu parecia pertencer.
Não prego aqui uma visão minha,
sobre mim mesmo, de uma suposta perfeição. Não. Pelo contrário. Reconheço os
meus defeitos, dos menores aos maiores. A verdade é que, numa busca para tentar
me encaixar, eu pareço ter tentado me integrar, me conectar, com pessoas que
talvez não sejam tão semelhantes a mim. Era como um daqueles brinquedos
infantis, no qual a criança insiste em colocar o círculo no lugar do quadrado.
Não havia um encaixe.
Eu não tinha como pertencer ali.
Olhando para trás – em especial,
os meus últimos dois anos –, acredito que eu tenha tentado me forçar a me
encaixar em certos espaços. Lugares onde eu não passava do que um simples
alguém que estava ali, onde eu era a pessoa que tentava, a todo custo, fazer o
bem para os outros e que não conseguia reconhecer o mal que fazia para si
mesmo. Eu mutilava os meus contornos tentando fazê-los encaixáveis. Porém,
sendo assim, eu acabava por me tornar um mero remendo, uma peça danificada que,
por mais que se esforçasse, não conseguia se adequar. Acredito que, na
tentativa de evitar a solidão, tentei me encaixar em diversos cenários, numa
falsa expectativa de que algum dia eu seria aceito ali.
Dia desses, eu chorei por
perceber não me encaixar em mais um espaço, em ver que certos amigos pareciam
não se importar comigo, como se a minha presença não fosse minimamente importante.
Talvez isso não seja pelos meus defeitos ou pelos deles. Talvez esse seja um
daqueles cenários em que as pessoas parecem vibrar em frequências diferentes e
nada pode ser feito para uni-las.
Nesse dia, em meio às lágrimas e
à mágoa, eu pude perceber que, durante muito tempo, eu pareço ter trilhado um
caminho diferente do qual eu quero realmente trilhar. Na busca por pertencer,
eu passei a me esquecer.
Eu não tinha como pertencer a um
lugar que não era onde eu realmente queria estar.
Que possamos então seguir os
nossos caminhos separadamente, guardando na memória as boas lembranças dos
momentos incríveis – ao menos para mim – em que passamos juntos. Mesmo que a
solidão me assuste, mesmo que ela possa parecer ser o meu destino, talvez seja
melhor estar só sendo quem realmente somos do que tentar arrancar nossos
pedaços buscando pertencer a algum lugar.
E que assim seja!
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