Postagens

Mostrando postagens de novembro, 2020

Despedida

Imagem
Hoje eu decidi me despedir de você. Acho que não há mais motivos para nos mantermos próximos um do outro. São mágoas constantes, de ambas as partes, e parecemos nos repelir mais do que duas partículas de mesmo sinal – sim, eu ainda me lembro das aulas de física. Acho que tudo começou errado. Talvez eu, o mais racional de nós dois, devesse ter, lá atrás, encerrado todo aquele papo inicial, as conversas até tarde da noite, as músicas compartilhadas, os escritos trocados. Teria sido tudo tão diferente. Talvez para melhor. Por mais que nos afastemos constantemente – como as tais partículas de mesmo sinal –, acredito que somos mais diferentes do que pensávamos. Você e a sua intensidade, eu e a minha calmaria. Você, explosão. Eu, implosão. Talvez seja melhor realmente nos despedirmos. Não sei se consigo lidar por muito mais tempo com todo esse comportamento de querer sem querer, de jogar comigo nas horas que bem entende e me fazer como um vassalo dos teus sentimentos. Talvez eu tam

Dica de Série: Upload (2020)

Imagem
“Upload” é uma série de ficção científica lançada pelo Prime Vídeo em 1º de Maio de 2020. A trama se passa em 2033, onde pessoas podem optar por fazer upload para um espaço digital do “pós-vida”. É isso o que acontece com Nathan Brown (Robbie Amell), um jovem programador que sofre um acidente de carro e que fica entre a vida e a morte. Por pressão de sua namorada, Ingrid (Allegra Edwards), Nathan aceita fazer upload para Lakeview. É lá onde ele conhece Nora (Andy Allo), o seu “Anjo”, a pessoa responsável pelo suporte técnico para ele nesse paraíso digital. Ao realizar o upload de Nathan, Nora descobre que algumas memórias dele foram danificadas, levando-a a suspeitar que ele fora assassinado. Com a proximidade entre eles, os dois passam a nutrir sentimentos um pelo outro, o que é perigoso tanto para Nora – que pode perder seu emprego por conta disso – quanto para Nathan – que pode ser apagado a qualquer momento por sua namorada, uma vez que é ela quem paga a sua estadia em Lakeview. CO

Sentimento #015 – A Solidão das Nossas Dores

Imagem
“Justamente naquela época Drogo deu-se conta de que os homens, ainda que possam se querer bem, permanecem sempre distantes; que, se alguém sofre, a dor é totalmente sua, ninguém mais pode tomar para si uma mínima parte dela; que, se alguém sofre, os outros não vão sofrer por isso, ainda que o amor seja grande, e é isso o que causa a solidão na vida.” – Dino Buzzati (em O Deserto dos Tártaros) Uma das coisas mais dolorosas que percebi ao longo da vida foi que estamos realmente sozinhos. Por mais que tenhamos amigos, parentes, amores... No fim das contas, estamos sós. Talvez achem essa minha constatação um tanto quanto pessimista – e talvez ela o seja, mas a considero mais como perturbadora. Porém, a verdade é que até podemos ter pessoas ao nosso lado, nos apoiando, nos aconselhando, nos ouvindo, mas, no fim das contas, ninguém será capaz de sentir as nossas dores. Por maior que seja a empatia ou a dedicação em tentar nos acolher, ninguém conseguirá sentir na pele aquilo que sentimentos.

Nota Mental nº 300

Imagem
Dia desses me questionei sobre mim. Ao me olhar no espelho, não fui capaz de me reconhecer mais. Parece haver, no lugar do meu reflexo, um outro eu, um alguém que não consigo mais identificar. O cansaço, as dores, as marcas; tudo parece ter tomado conta de mim. E eu? Por tanto tempo me doei aos outros, ao mundo, à vida... E eu? Pareço ter me esquecido justamente do que mais deveria me importar naquele momento. De mim mesmo. Resolvi então me cuidar. Busquei fórmulas, receitas, sugestões. Nada. Nada parecia me caber. Eu. Uma velha máquina enferrujada que necessitava de reparos, de cuidados... Cuidado... Palavra bonita. Ao longo da vida pude experimentar doses de cuidado. Aos amigos, aos amores, aos parentes, aos clientes, aos... E eu? Quando devo ter cuidado de mim? Talvez naquela viagem ou naquela tarde qualquer em que me permiti devorar uma obra de Ágatha Christie com fervor ou quando me permiti assistir a todos os filmes que se encontravam na minha lista ou quando eu simplesmente não

Dica de Filme: Diário de uma Paixão (2004)

Imagem
“Diário de uma Paixão” é um filme lançado em 2004 inspirado no livro homônimo de Nicholas Sparks. Na trama, acompanhamos a história de amor entre Noah (Ryan Gosling) e Allie (Rachel McAdams). Os dois se apaixonam e iniciam um relacionamento intenso, mas repleto de idas e vindas. Antes de o verão acabar, os pais de Allie passam a se opor ao relacionamento e a levam embora da pequena Seabrook. Noah envia cartas para sua amada, mas após não receber nenhuma resposta, resolve seguir sua vida. Sete anos depois, prestes a se casar com Lon (James Marsden), Allie vê a foto de Noah no jornal junto à casa que ele prometeu um dia reformar. Ela resolve ir atrás dele, o que faz com que a chama da paixão de anos antes volte a se acender, deixando Allie dividida entre o seu antigo amor e o seu novo amor. COMENTÁRIO: Não sei porque motivo eu não havia visto esse filme antes. A história de amor entre Noah e Allie é simplesmente fantástica e possui fortes doses de realidade, o que torna a relação deles a

Sentimento #014 – Pelos Amores Reais

Imagem
“Nada do que eu já fiz me agrada. E o que eu fiz com amor, estraçalhou-se. Nem amar eu sabia, nem amar eu sabia.” - Clarice Lispector Desde pequenos, somos ensinados que o amor é a mais bela coisa que se pode existir. E, de fato, ele o é. Porém, discordo desse amor idealizado com o qual parecem nos condicionar. Talvez seja por isso que encontremos tantas e tantas pessoas com os corações partidos. Somos ensinados a idealizar. Seja nos filmes, nos livros ou, até mesmo, nas falas cotidianas, sempre nos é mostrado um amor que, acredito eu, seja incapaz de existir. O amor não te isenta de erros. Amar não é simplesmente errar e pedir perdão a cada erro, muito menos é perdoar todas as coisas que alguém faz conosco e que nos magoaram pelo simples ideal de que “o amor tudo suporta”. Isso é cruel. Terrivelmente cruel. Acredito que seríamos muito mais saudáveis se não fôssemos enganados com as histórias românticas idealizadas de amores eternos e perfeitos. Se existe um amor ideal e pe

Sentir Outra Vez

Imagem
Volta e meia costumo pensar se eu gostaria ou não de ter o poder de voltar no tempo. Ao mesmo tempo em que sou grato por ser quem sou – mesmo com todas as coisas ruins que já me aconteceram –, penso em como tudo poderia ser diferente. Talvez eu fosse mais feliz, mais alegre, mais amado... Tantas e tantas possibilidades que me fazem me questionar sobre quem sou, o que vivi e o que ainda poderei viver. Trata-se de um jogo de forças que me puxa em direções contrárias – e não são apenas duas, mas várias. Se por um lado pareço aceitar o que me aconteceu, por outro penso em como tudo poderia ser diferente. No amor e na amizade, por exemplo, se eu não tivesse vivenciado tantas traições e mentiras, eu poderia ser menos “quebrado” do que sou. Ao mesmo tempo, talvez eu conseguisse ainda acreditar com mais facilidade nas pessoas ao meu redor... Talvez eu conseguisse acreditar ainda, com aquela força e paixão do passado, na amizade e no amor. Tudo seria diferente... Porém, talvez eu não estivesse

Dica de Livro: Bom Dia, Verônica (2016)

Imagem
A rotina da escrivã de polícia Verônica Torres era pacata, burocrática e repleta de sonhos interrompidos até aquela manhã. Um abismo se abre diante de seus pés de uma hora para outra quando, na mesma semana, ela presencia um suicídio inesperado e recebe a ligação anônima de uma mulher clamando por sua vida. Verônica sente um verdadeiro calafrio, mas abraça a oportunidade de mostrar suas habilidades investigativas e decide mergulhar sozinha nos dois casos. Um turbilhão de acontecimentos inesperados é desencadeado e a levam a um encontro com lado mais sombrio do coração humano. * COMENTÁRIO : Instigado pela série “Bom Dia, Verônica”, fui atrás do livro no qual a mesma fora baseada. Porém, logo nas primeiras páginas é possível perceber que as duas obras possuem várias diferenças – a começar pelo suicídio que dá início à trama. Enquanto na série da Netflix, Verônica acredita cegamente em Carvana e vai, aos poucos, percebendo os segredos que ele esconde, no livro ela já apresenta – logo a

Sentimento #013 – A Coragem de Amar

Imagem
“Até na pessoa mais cansada o amor é como um despertar.” - Francesco Alberoni Às vezes, ao olhar para trás, lembro com ternura de como eu costumava ser. Uma doce inocência, um ar de pureza e uma terrível capacidade para me iludir. Acho que foi assim que comecei a conhecer o amor: como uma fantasia. Com o passar dos anos, com as decepções que surgiram, fui aprendendo – na marra – que o amor não é tão simples quanto parece. Amar é difícil, é complicado... Não há pessoa no mundo que seja capaz de decifrar o que, de verdade, é o amor. Já jurei para mim mesmo nunca mais me apaixonar, mas mesmo assim, quando eu menos esperava, lá estava um sorriso, um olhar, uma palavra, um toque, algo simples que acabava por me encantar por completo. Ninguém explica o amor... Nem mesmo o coração mais partido ou mais bem cuidado é capaz de evitá-lo. Amar alguém é como simplesmente renascer de si mesmo, das suas próprias cinzas. É como se inundar de esperança em meio ao caos. Amar alguém é um dos ma

Nós Dois

Imagem
Poucas vezes na vida eu tive a vontade de voltar no tempo e fazer tudo diferente. Não costumo me arrepender das minhas escolhas – por mais erradas que elas possam ser. Porém, com você, tudo foi diferente. Com você, eu teria a coragem necessária para voltar atrás e fazer tudo diferente. Com você, eu teria tido a coragem necessária para enfrentar todos os meus medos de uma vez por todas. Te conhecer foi algo estranho. Bom, mas estranho. Se eu precisasse descrever o que mais me chamou a atenção em você, seria – sem sombra de dúvidas – o teu sorriso. Lembro como se fosse hoje a primeira vez em que eu o vi. Um sorriso forte, marcante, sorriso de gente feliz. Eu nada sabia sobre você e, talvez, ter descoberto tudo o que sei hoje tenha me feito te admirar cada vez mais. Você sempre parece saber o que dizer: seja em uma brincadeira ou em uma conversa mais séria. Sempre... À primeira vista, eu diria que nós dois não teríamos sequer como ser amigos, muito menos amantes. Ao te ver de longe, eu po

Dica de Livro: O Deserto dos Tártaros (1940)

Imagem
“O Deserto dos Tártaros” é a obra-prima de Dino Buzzati. Publicado originalmente em 1940, o livro marcou a consagração do autor entre os grandes nomes da literatura italiana e foi eleito pela crítica especializada um dos melhores livros do século XX. A obra narra a história do jovem tenente Giovanni Drogo, que recebe com alegria uma missão no forte Bastiani — para ele, a primeira etapa de uma carreira gloriosa. Embora não pretendesse ficar por muito tempo, o oficial de repente se dá conta de que os anos se passaram enquanto, quase sem perceber, ele e seus companheiros alimentavam a expectativa de uma invasão estrangeira que nunca acontece. A espera pelo inimigo transforma-se na espera por uma razão de viver, na renúncia da juventude e na mistura de fantasia e realidade.* COMENTÁRIO: “O Deserto dos Tártaros” me foi indicado pela minha orientadora. Demorei um pouco a ler a obra e confesso que ficava bastante angustiado com o desenrolar da trama. Este não é um livro repleto de plots twist

Sentimento #012 – Sobre a Incerteza do Amar

Imagem
“Mas algo realmente se intrometera entre eles, um véu indefinido e vago que não queria se dissipar; talvez houvesse crescido lentamente durante a longa separação, dia após dia, afastando-os, sem que nenhum dos dois soubesse.” – Dino Buzzati (em O Deserto dos Tártaros) Acho terrível esse mito criado sobre o amor e a sua onipotência. Parece que tentam, a todo custo, colocá-lo num pedestal, como um santo imaculado – sagrado. Ao meu ver, o amor não é onipotente. Pelo contrário, é através dele que conseguimos enxergar toda a nossa impotência diante do mundo. Não é tudo que podemos controlar, muito menos o amor, muito menos aquela pessoa que amamos. O amor, assim como nós, é mutável, capaz de se transformar não apenas nas mais diversas formas de amor, mas também em outros sentimentos. O amor não é necessariamente eterno ou forte o suficiente para superar o tempo e a distância. Cada forma de amar é única em sua pura existência. Ao amor não cabem comparações, medições, estimativas e,

Renascer

Imagem
Era a manhã de um domingo ensolarado. Eu vestia preto, como de costume. Por dentro, havia um turbilhão de emoções. Era o primeiro passo de uma longa jornada. Afinal de contas, quem eu era? Demorou um pouco para que eu pudesse descobrir. Acho que, na verdade, seria honesto dizer que ainda nem tenho a resposta completa para essa pergunta. Eu tenho tentado, ao longo desses últimos anos, me conhecer cada vez mais. Quem eu era? Quem eu sou? Tem sido um caminho tortuoso. Às vezes repleto de dor, às vezes repleto de prazer, às vezes repleto de um simples marasmo. Pouco a pouco, fui conhecendo um pouco mais sobre mim, sobre o que eu gostava ou não, mas, principalmente, sobre quem eu era. Naquela época eu não saberia responder, mas hoje digo que, ali, naquele domingo, eu era apenas um garoto assustado, com medo do mundo e das pessoas ao redor. Um garoto que não sabia bem interagir, não sabia se defender, não sabia o que dizer; um alguém que tinha medo de viver e que só queria uma mí