Quando eu te amei...
Quando eu te amei, eu era alguém. Talvez um
alguém meio desnorteado e perdido, mas ainda assim um alguém. Era um rapaz
quebrado, com medo, assustado, encolhido em algum canto escuro da vida. Quando
eu te amei, a luz surgiu nos meus dias. Parecia haver um motivo para viver,
para lutar, para voltar a sonhar...
Nunca fui de utopizar as pessoas, de
imaginá-las de uma forma perfeita – tampouco os relacionamentos. Pelo
contrário, sempre esperava nelas o seu pior... Menos em você. Você não! Você
não seria capaz de machucar, de me fazer sofrer. Havia pureza e bondade em
você. Havia algo que eu nunca havia enxergado em mais ninguém. Havia um pouco
de mim.
Não demorou muito para que eu percebesse
que estava enganado. Foi ao acaso que a primeira mágoa surgiu. E doeu. Dizem
que quando amamos alguém – embora, naquela época eu ainda não soubesse disso –,
as mágoas parecem doer mais. Não esperamos que a pessoa que amamos nos
machuque. E acho que esse foi o meu segundo maior erro: eu não me permitia
enxergar.
Mesmo magoado, eu insisti. Nunca fui de
desistir fácil daquilo que desejo. Quando quero algo ou alguém, deixo claro os
meus interesses, jogo limpo e vou à luta. Talvez eu devesse ter desistido
naquele primeiro dia... A sua primeira mentira já devia ter sido suficiente,
mas eu fazia questão de sonhar, de negar para mim todas as coisas ruins que
vinham surgindo.
Talvez eu estivesse cego. Essa é a única
justificativa para que eu não enxergasse, naquela época, todos os sinais que
estavam na minha frente. Seja no Natal e o que você me fez questão de contar e
me machucar, seja na véspera da minha primeira prova ou no meu aniversário,
quando chorei o dia inteiro e sequer levantei da cama. Sempre havia algo vindo
de você direcionado a mim com a intenção de me ferir. Eu me achava louco,
achava que o problema estava comigo e que eu havia me tornado a pior das
pessoas.
Não demorou para que eu afundasse, mas você
estava lá. Suas mãos me seguravam, seus abraços me davam força e seus beijos me
faziam acreditar que tudo uma hora ou outra iria passar. Eu tinha a plena
certeza de que iria passar... Mas não passou. Piorou.
Demorou muito tempo até eu ser capaz de
perceber a toxicidade do seu amor, que eu não precisava dormir todas as noites
rezando fortemente para que você não me machucasse no dia seguinte. Eu te amava
e, no que dependesse de mim, eu seria capaz de te amar até o último dos meus
dias. Talvez eu tenha cumprido essa promessa. Eu te amei até o meu último dia
de vida.
Depois de você, eu morri. Ou melhor, eu me
matei pouco a pouco, em vários dos dias em que você disse me amar. Quando eu te
amei, eu ainda era alguém. Alguém diferente do que sou hoje em dia.
Depois
que eu te amei, eu renasci, a luz voltou a surgir nos meus dias. Passou a haver
um motivo para viver, para lutar, para voltar a sonhar... E isso só aconteceu
quando tive a noção do meu maior erro para com você: o de achar que eu devia
me deixar sofrer em nome do amor de alguém que nunca soube o que era amar.
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