Depois de Você



     Dia desses eu pensei em você. Foi algo aleatório. Parecia que, após tanto tempo sem ter qualquer lembrança tua, você simplesmente surgiu na minha consciência. Porém, dessa vez foi diferente. Eu já não sou mais o mesmo de antes e, até mesmo, a visão que eu tinha sobre você – e sobre nós – mudou.
     Era engraçado como aquele Eu de anos atrás te amava, esquecia todos os teus vacilos, as tuas mentiras, as ignorâncias e a forma como você desrespeitava os meus sentimentos, as minhas dores, as minhas angústias. Hoje não consigo me enxergar mais naquela posição: amando alguém que me machucava quase que diariamente e que, mesmo assim, conseguia me prender ao lado com uns dois pares de palavras bonitas. Era estranho, doente, insano. Talvez uma doença minha... Não sei.
     É estranho quando você ama alguém. Parece que o teu dia se torna mais alegre por coisas bobas: uma simples foto, um simples sorriso, até mesmo o mais aleatório “oi”. Tudo parece ficar mais fácil... E acho que percorri um longo caminho até perceber que tal felicidade não era cem por cento verdadeira, mas que se tratava de uma visão – mesmo que errônea – minha sobre você. Não foi tua culpa. Não foi minha culpa. Fomos vítimas das circunstâncias.
     Não posso negar que você me machucou. Se foi intencionalmente ou não, talvez só você saiba – ou talvez ainda nem tenha a consciência de que o fez. O fato é que, pouco a pouco, mesmo após termos nos afastado, eu fui percebendo que você não era aquela pessoa que um dia eu amei. Os teus jeitos, as tuas manias... E a forma como você sempre me convencia a ficar, daquele jeito, com aquele sorriso e aquela emoção que parecia que somente você era capaz de despertar em mim.
     O tempo passou depressa, mas parece que dentro de mim tudo correu de forma lenta, quase que como se o tempo tivesse sido congelado. Você se foi, eu fiquei. As minhas dores de antes não sumiram, as dores que você provocou criaram raízes, outras dores se agruparam, formando um complexo do qual nem eu mesmo sei se sou capaz de sair. Se o Eu de hoje estivesse lidando com todos aqueles conflitos, creio que eu teria me afastado ainda no começo, logo quando você começou a me ferir. Eu jamais teria voltado.
     Acho que, com o passar do tempo, fui amadurecendo, fui criando novas formas de lidar com a dor – umas mais positivas, outras nem tanto – e, ao passo em que eu fui me tornando esse “novo” Eu, parece que me tornei alguém incapaz de amar, alguém incapaz de sentir, de confiar; um ser frio. Demorei um tempo até perceber que essa mudança interna não foi diretamente relacionada a você – embora tudo o que você fez tenha tido um papel preponderante –, mas acho que passei a dar mais valor aos meus sentimentos, às minhas dores, às minhas angústias e, mais importante ainda, a quem eu sou.
     Hoje eu não te permitiria mais me machucar. Hoje eu não te machucaria de volta. Hoje eu não mais aceitaria os teus abraços e afagos como forma de me manter preso a você. Hoje eu tenho cada vez mais certeza de que me amar foi a melhor coisa que eu pude aprender depois de você.

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