Absolutamente Só
Vai
chegar um dia em que você vai perceber que está só. Não haverá uma mão amiga, um
ombro disposto a te consolar... Nada. Apenas um abismo entre você e o mundo lá
fora.
Haverá
uma dor excruciante, um vazio inefável, uma sensação de não-pertencimento, uma ausência
cruel de todos aqueles que um dia disseram estar ali contigo – e dos que,
também, nunca o disseram. Você vai sentir as lágrimas escorrerem dos teus
olhos, o suor escapar do teu corpo e o sangue derramar da tua alma. Ninguém vai
estar ali.
Absolutamente
ninguém.
Você
vai se perceber só e, por mais que isso seja libertador, você vai sofrer. A dor
vai te rasgar aos poucos, vai te fazer temer o mundo lá fora, se angustiar com
o incerto, não confiar no primeiro ou segundo sorriso amigo que surgir. Você
vai se calar, vai se isolar. As lágrimas, o suor e o sangue continuarão a vazar
e você... Você vai simplesmente estar só.
Absolutamente
só.
Não
haverá quem te puxe do fundo do poço, não haverá quem te ouça, não haverá quem
sequer tente te apoiar e, por mais que você queira sair daquilo tudo, você não
terá forças suficientes. Você pode tentar, você pode lutar, mas aquela já não
vai ser mais uma luta a ser vencida sozinha... E, mesmo assim, não haverá mais
ninguém.
Apenas
você.
Aos
poucos, o poço vai se enchendo com uma mistura inexplicável de lágrimas, suor e
sangue e, quanto mais dor existir, mais esse poço vai se encher. Você vai se
afogar em sua própria dor, vai se afundar nas suas próprias mágoas, vai se
sufocar nas suas angústias e, ainda assim, você estará só. Sozinho. Sem
ninguém. Sem uma mísera alma para te dizer um “Vem! Eu estou aqui em cima! Você
consegue.”.
Não...
Não haverá ninguém.
Você
estará sozinho.
Absolutamente
só.
Será
ali, enquanto você se revira em meio àquela mistura de lágrimas, suor e sangue,
em meio àquele poço fundo e escuro, que você perceberá que está morrendo aos
poucos há muito tempo. Perceberá que nada bastará, que, por mais que você tente,
o poço vai se tornando cada vez mais fundo... E ninguém vira te salvar.
Ninguém.
Já
será tarde demais.
Não
acredito que dependamos dos outros para sairmos das nossas dores. Acredito muito
menos na ideia de que alguém, algum dia, virá nos salvar. Porém, a verdade é
que toda luta, toda dor, é mais facilmente vencida e mais suportável quando não
é lutada ou sentida sozinha. Ter alguém com quem contar, seja um ombro ou uma
mão amiga, já me parece ser o suficiente. Apenas aquele alguém ali, que ainda
acredita em você, que quer estar com você, que torce por você... Será alguém
que não vai te procurar apenas quando precisar de um favor ou quando quiser um
bom ombro amigo para chorar as suas mágoas. Não... Será alguém que se importa
de verdade com você, que não quer apenas desabafar, mas que se preocupa
contigo, que vai estar ali com você, independente da hora ou do momento.
Por
muito tempo acreditei que eu era estranho, que era uma imbecilidade sem tamanho
desejar encontrar alguém assim. Eu sabia – e tinha a certeza de – que ninguém
viria me salvar, que eu precisava curar as minhas feridas sozinho, enxugar as
minhas lágrimas sozinho, suportar as minhas dores sozinho. A verdade é que...
Hoje, eu não sei mais no que acredito. A verdade é que hoje ainda dói ser só.
Ainda dói estar só.
Ainda
dói ser.
Ainda
dói fechar os olhos marejados todas as noites desejando falar sobre tudo o que
aconteceu, sobre o que está me doendo, sobre o que está me angustiando e, ainda
assim, não ter ninguém. Não ter sequer uma pessoa que possa estar ali, que te
escute, que esteja contigo. Um mero alguém em quem confiar, uma pessoa com quem
eu possa contar. Ainda dói acordar na manhã seguinte, com os olhos já secos –
mas doloridos das lágrimas choradas e das lágrimas reprimidas – e, ainda assim,
precisar sorrir porque o mundo não suporta ver as pessoas tristes, fingir estar
bem quando alguém te procura para falar das suas dores ou das suas angústias e,
por mais que você não esteja bem, ainda assim, tentar ajudar, ouvir... Apenas
para que aquela pessoa não se sinta como você.
Eu não
desejo que eles sintam a mesma dor que eu.
Por
enquanto, ainda estou aqui no poço, em meio à mistura de lágrimas, suor e
sangue, sem forças para levantar, para me reerguer, para lutar, para sair. Sei
que ninguém virá me salvar, mas sei também que, agora, sou incapaz de seguir em
frente. Enquanto mergulho em mim mesmo, em minha própria dor, continuo a
chorar, a transpirar e a sangrar até, quem sabe, um dia... Para o bem e para o
mal.
Comentários
Postar um comentário