Sobre Corações Partidos
“Meu coração
parece ter se tornado um bloco de gelo. Talvez por ocasião do momento, devido
às circunstâncias, ou pelo simples medo de que tudo aconteça novamente. É uma
lei de sobrevivência que aprendemos ainda na infância: quando nos machucamos
com algo, vamos pensar duas, três, cem vezes antes de repetir aquela mesma
ação. É assim com o amor (ou relacionamentos em geral). Algumas pessoas podem
dizer se tratar de uma covardia desmedida, mas acho que seja uma precaução, uma
forma de proteger a si mesmo dos erros dos outros.
Certa vez, eu me apaixonei. Ela parecia a
garota ideal e ela era – ao menos na minha visão, naquele momento. Ouvi uma vez
que amamos uma pessoa não pelas suas qualidades, mas ‘quando conhecemos as
qualidades e os defeitos da outra pessoa e, ainda assim, continuamos a gostar
dela’. Foi aí, quando lembrei dessa frase, após algumas mágoas, que eu percebi
que a amava. Para muitas pessoas, amar alguém que nos magoa – ou nos magoou –
trata-se de um masoquismo sem fim, mas não é. Ela não era a ‘garota ideal’ e
está longe de ser.
Ao longo da
minha vida, ouvi histórias de amor das mais diversas. Seja em desabafos ou pela
minha mais humilde curiosidade – tenho um certo ‘fanatismo’ em ouvir histórias
de amor alheias – e me espantei com a quantidade de pessoas que sofreram por
amor. Do ponto de vista ‘moderno’, seria fácil dizer que tais pessoas são ‘trouxas’
e/ou idiotas. Porém, é errado pensar dessa forma. Amar é um gesto de coragem,
mesmo quando não somos retribuídos, quando somos traídos ou, até mesmo, quando
amamos alguém que não mereça o nosso amor. Amar alguém é ser altruísta, é ter a
coragem de colocar a felicidade dessa pessoa junto a nossa, mas infelizmente
nem todas as pessoas sabem o que é isso.
Acho que é
seguro dizer que eu perdi a minha sensibilidade. As palavras se formam sem os
seus conectivos, as lembranças atormentam de uma forma jamais vista. Creio que
a única parte sensível que restou tenha sido a amargura que me atormenta todas
as noites quando vou dormir. Aquela velha amargura, misturada com uma dose de
rancor, outra de saudade, e uma overdose de tristeza. O que me resta de
sensibilidade sai em lágrimas, lágrimas que ferem e sangram mesmo sendo tão
escassas. Talvez esse seja o castigo de amar em um mundo onde quase todas as
pessoas são egoístas.”
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