Sobre a Estúpida Ideia de Amar


Certa vez me perguntaram qual meu “filme romântico favorito”. Ao se deparar com a minha resposta, a pessoa simplesmente me olhou com uma cara de desprezo e disse: “Você não sabe o que é amor!”. Parei e pensei: “Será que eu realmente não sei o que é amor?”. Fiquei com aquele questionamento na cabeça por alguns dias até, finalmente, descobrir que eu não sabia o que era amor, mas que aquele filme tratava a história de um amor que eu gostaria de viver, uma história real, onde nem sempre podemos ter finais felizes. Podem me chamar de masoquista, negativo ou qualquer merda que quiserem, mas para mim, a melhor história de amor já contada é a do filme “Um Amor Para Recordar” (coloquem “P.S.: Eu te amo!” praticamente empatado com ele).

Sempre fui daquelas pessoas que acreditam em amores verdadeiros. Ao contrário dos demais garotos, eu não queria ser um super-herói, não queria sair batendo em vários vilões ou coisa do tipo. Pelo contrário, meu sonho era ser um príncipe. Sempre que vivia uma paixonite, acreditava que eu seria o príncipe encantado daquela garota, que eu entraria com o meu cavalo branco em um castelo e fugiríamos rumo à felicidade. Ok. Coisas idiotas. Bem, eu nunca invadi um castelo, nunca fui a um castelo e não tenho um cavalo. Também acredito que eu jamais seria capaz de invadir um lugar com um cavalo (existem limites no romantismo ok?).

Algumas pessoas podem dizer que perdi minha essência, que eu perdi o meu ideal de romance, os meus sonhos de viver um grande amor, mas deixe-me contar um segredo: aqui, bem no fundo, ainda há aquele garoto romântico, ainda existe aquele cara que sonha em um dia encontrar a “garota ideal” que vai me fazer sorrir de forma estúpida ou que vai, simplesmente, sentar ao meu lado e dividir um pote de sorvet... Quer saber? Vamos esquecer esses sonhos tão comuns a todos! Eu não quero viver um amor e dividir um pote de sorvete. Quem sabe nós não compraremos biscoitos ou faremos uma torta? Quem sabe todos esses ideais românticos não sejam apenas formas de iludir pessoas tolas que ainda acreditam naquele amor perfeito entre príncipes e princesas, um amor que duraria “para sempre”.

Não. Não existe “felizes para sempre”. E enquanto continuarmos acreditando que isso existe, vamos sofrer, sofrer, sofrer, sofrer e foder cada vez mais a nossa vida por causa de uma ideia que nos impuseram. Quem disse que amores precisam ser para sempre? Porque, ao meu entender, quando um romance acaba, a próxima pessoa será a sua “alma gêmea” e quando esse novo romance acabar, a seguinte pessoa será a sua “alma gêmea”. Amores eternos e coisas do tipo são apenas convenções de momentos. Pura conveniência para iludir corações românticos. Convenções que nos farão sonhar que aquela pessoa estará ao nosso lado para sempre.

Creio que prefiro um amor intenso de cinco dias a um amor insosso de cinco décadas. Amor é sobre intensidade, é sobre carinho, companheirismo, toque, tesão, sexo. Que não seja amor, que seja uma paixão ou apenas o simples fato de querer estar com alguém. Chega de convencionarmos nossa vida em prol de um amor, em prol de alguém que nos fará feliz. Ame a si mesmo, cultive o amor próprio e ame o simples fato de estar com alguém. Essa sim é a maior felicidade. E no fim, quando você estiver com seus setenta, oitenta ou noventa anos e olhar para o passado, não se arrependerá de simplesmente ter sentado e esperado um amor verdadeiro. Amores acabam. Lembranças permanecem. Amores podem durar uma vida inteira, mas lembranças ultrapassam até a nossa morte.

Texto Originalmente publicado em 26 de abril de 2015.

Revisado em 27 de dezembro de 2020.



Comentários

  1. Gostei muito do texto. O notável aumento no tom do autor um tanto que surpreende o leitor à medida que é evidente a experiência transicional de um jovem, o choque entre o mundo fantasioso, perfeito, simétrico, onírico com um mundo real, cruel, natural, hormonal. E exatamente esse trauma eleva à evasão do infantil e a invasão do adulto e ao seu final transcende a um dos mais complexos paradoxos que existem, vida e felicidade. Para finalizar, muitos são aqueles que vivem e não expressam. Parabéns por um daqueles que vivem e expressam.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A Resposta da Ninfa ao Pastor – Walter Raleigh

Sentimento #016 – O Significado do Amor