Sobre todas as coisas
Ele tocou as mãos dela, que o
olhou sorrindo.
– Eu estou aqui! – Suas poucas
palavras foram o suficiente para que ela o abraçasse. Era um abraço repleto de
conforto e carinho, mas que não deixava de conter também um certo desejo. Era
um desejo irracional, sem pudores, mas que o assustava. Assustava tanto, tanto,
tanto... Que, por vezes, ele parecia querer fugir dela, fugir de todo aquele
amor, de toda aquela paixão, de todo aquele tesão, de todo aquele carinho, de
todo aquele sentimento. Como alguém poderia reconhecer o amor se nunca havia
entrado em contato com ele?
– Obrigada! – Ela sorriu e o
abraçou.
Ele levantou e a olhou uma
última vez, ainda segurando a sua mão. Ela tinha as mãos mais gostosas que ele
já havia tocado. Eram mãos suaves, finas e, por tantas vezes, gélidas. Como ele
amava tocar aquelas mãos, sentir o seu toque entrar em contato com o dela: mãos
unidas pelos dedos que completavam os espaços vazios uma da outra.
Ele saiu com a cabeça baixa. Ele
desejava voltar, deseja abraçá-la, beijá-la, tocá-la, mas em sentidos
diferentes e não comuns aos demais. Não era algo simplesmente carnal, puro
desejo, fogo. Era um carinho, um carinho suficientemente forte em ter aquela
presença, uma presença doce, sutil e que enchia os seus dias. Olhando para os prédios
tão altos, as pessoas passando e o olhando, ele sabia, ele tinha certeza que
queria estar com ela independentemente de qualquer coisa. Acima de tudo.
Existem coisas inexplicáveis.
Sobre todas as palavras, sobre todos os verbos, sobre todas as veias... O mesmo
sangue corre, os mesmos significados para todas as palavras, os mesmos
sentimentos – embora as dores e as diversas formas de sentir sejam diferentes.
Todos ali presentes, mas sem serem obrigatoriamente sentidos. Nossas
diferenças... Todas pautadas em sentimentos, em sensações, na experiência...
Simples gestos, simples falas... Só eles, só esses sentimentos sempre tão
bobos, tão burros e, por vezes, tão inconsequentes, são capazes de nos ditar,
de nos mostrar tudo aquilo que somos capazes, tudo o que somos. Todos nós...
Simples sentimentos. Sem eles somos apenas velhas carcaças repletas de veias,
pele e “porquês”.
Sobre todas as coisas...
Sobre todos os sentimentos.
Texto Originalmente publicado em 14 de abril
de 2015.
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