Arco-Íris
O tempo passa, assim como as
pessoas, os carros e seus motores, a vida. Tudo caminha em direção a algum
lugar. Eu me sinto parado, preso, gélido, assustado, com medo. Medo... Dizem
que, à medida que envelhecemos, ele para de nos controlar. Pura mentira. Medo
de morrer, de envelhecer, de sofrer, de amar, de viver. Tantos e tantos medos.
Da janela do meu quarto, eu vejo
o tempo passar. A clausura me tornou inerte, frio, apático e, até mesmo,
insensível. Uma criança presa no corpo de um homem com a alma de um velho.
Sonhos presos no corpo de quem pode realizá-los, mas está cansado demais. A
velha coragem freada pela mente de um jovem assustado.
Agora chove. Em contrapartida ao
meu frio coração está o calor de uma cidade tipicamente tropical. Um homem
recluso em um lugar onde tudo vira festa. Perdoem-me, meus compatriotas, mas
não estou disposto a viver tamanha felicidade gratuita. Sou um homem das
palavras, cercado de âncoras e freios. Âncoras e freios. Estou preso e minhas
forças esvaem-se.
No céu, bem ao fundo, atrás de
um prédio tão cinza quanto as nuvens e a cidade, há um arco-íris. Minha
racionalidade explica tal fenômeno como a decomposição da luz. Sete cores. Sete
novas formas de enxergar algo, até então, tão natural e comum. Estamos tão
acostumados com a luz que ao vê-la na sua real forma, ficamos bestificados com
tamanha perfeição.
Para muitos, aquele era mais um
arco-íris. No fundo, algo em mim dizia que era um sinal do antigo clichê de que
após a tempestade sempre haverá a calmaria, um arco-íris onde o pote de ouro é
a chance de felicidade, um sopro de vida. A esperança é o que nos move.
A tempestade passou, a janela eu
abri, o tempo continua a passar, as pessoas continuam a caminhar. Porém, agora
eu percebo que sou capaz de remover todos aqueles freios e âncoras. Agora eu
percebo que sou a minha única esperança. Eu sou a minha felicidade. Uma criança
no corpo de um adulto com alma de velho. Um adulto que, por mais velho que
pareça ser, não consegue deixar de existir, deixar de sonhar, deixar de
viver...
Texto Originalmente publicado em 03 de junho
de 2015.
Revisado em 19 de janeiro de 2021.
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