Lembrar



                “Eu consigo me lembrar da primeira vez que eu te vi. Era noite, seus cabelos ao vento, delicadamente penteados. E eu ali, um completo estranho que estava completamente encantado com o teu sorriso e com o teu olhar.
                Lembro do primeiro abraço, do primeiro adeus, do primeiro beijo, do primeiro beijo de verdade, do primeiro toque de mãos, da primeira música, da primeira briga, da primeira vez que você me magoou, da primeira vez que você disse gostar de mim e eu me lembro, com precisão, da primeira vez que você partiu o meu coração. E não foi a última...
                Talvez eu tenha errado comigo. Talvez tenha sido masoquismo insistir nesse amor tão sem cabimento, insistir nesse sentimento que – mesmo contra a minha vontade – parecia crescer, me inundar. O mesmo sentimento que você usou contra mim. Com todas as suas palavras e gestos cruéis que, até hoje, embrulham-me o estômago tão fortemente que nem mesmo o mais forte chá de folha de louro é capaz de aliviar.
                Desde pequeno, sempre tive o medo de esquecer. Tinha – e ainda tenho – um completo pavor de esquecer quem eu era, quem eu amava, os rostos ao meu redor, as minhas lembranças... E acho que eu acabei me esquecendo. É. Eu esqueci. Eu me esqueci de mim.
                Acho que, no fundo, eu acreditei nas tuas palavras; acreditei ser a criatura horrível que você fez questão de me tornar perante nós dois e acabei esquecendo quem eu realmente era. Eu não quero esquecer! Não quero esquecer o amor, a dor, nada disso. Eu quero que as lembranças me incendeiem como uma velha casa de madeira encharcada por gasolina. Eu quero lembrar, cada dia, cada vez mais, até que tudo isso se torne indolor. Eu quero ser capaz de lembrar tudo o que aconteceu, não com remorso nem por masoquismo, mas como um simples lembrete, uma nota mental, de não deixar nada daquilo se repetir novamente. Pra nunca esquecer... Pra nunca esquecer quem eu realmente sou. Pra nunca esquecer quem você realmente é.”

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