Questionamentos Sobre o Amor

As portas se fecharam. As palavras não conseguem mais sair. Eu poderia inventar dialetos, criar neologismos, pintar quadros, compor músicas; mas eles seriam incapazes de expressar os meus sentimentos. A escuridão parece inevitável e, aos poucos, pareço voltar àquele “eu” de outrora, um eu invernal, frio, calado e sem perspectivas nem anseios de aquecer o coração. Coração... Sempre tão estúpido e idiota... Coração... Órgão tão essencial...

Não consigo compreender o amor. Eu até que tentei (juro!), mas não consegui. Sentimentozinho complicado, confuso e aterrorizante. Não “podemos” nos apaixonar por quem se parece conosco, afinal seria um romance sem desafios. Não “podemos” nos apaixonar por quem nos é tão diferente, afinal seria um romance sem futuro. Não “podemos” sequer nos apaixonar rapidamente, afinal somos loucos de viver tamanha intensidade. Não “podemos” ter paciência no amor, afinal o coração é feito para sentir as dores e os amores onde e quando eles vierem.

Acho que, no fundo, mas no fundo mesmo, eu errei. Errei em tanto tentar compreender o amor, em tanto encontrar explicações racionais para os meus sentimentos. Errei em ter tamanha exatidão, em tentar explicar com exatas aquilo que nem de humanas é. “Coração não é tão simples quanto pensa”! Acredito que o amor tenha sido “feito” para ser sentido. É... Eu acho que senti o amor. Eu não fui racional em um todo, eu me deixei inundar pelo amor, deixei meu coração à deriva, desancorado. E não tenho culpa se as âncoras nele jogadas não foram fortes o suficiente para fazê-lo querer ficar.

No fundo, eu acho que a graça do amor é essa: se jogar, ser abestalhado, rir das mesmas idiotices por mais infantis que elas sejam. É querer estar perto, querer abraçar, beijar, apertar, sentir o cheiro, fazer carinho, alisar o cabelo um do outro e no fim não se cansar disso tudo e querer sempre mais. A graça do amor é a cumplicidade, a amizade, o próprio amor, a paixão, o tesão. Tudo. Amor não é soma nem diferença, não é cabível de interpretação, não é obrigado a ter explicações. Amor pode ser tudo ou nada, pode ser sobre viver ou morrer, sobre ganhar ou perder, sobre amar ou esquecer...

Amar não é fácil. Encontrar o amor é mais difícil ainda. O amor é capaz de adoçar a vida, mas também é capaz de fomentar a morte. Afinal, de que adianta encontrarmos o amor se, ao fim de tudo, iremos morrer? Pessimista, eu sei, mas real. Acho que agora entendi a graça de viver um amor. Talvez ele sirva para aquecer o coração, fazê-lo bater mais forte, com intensidade, para que, no dia da nossa morte, ela possa doer de verdade. Um coração que nunca amou (me perdoem) só pode estar morto. E qual a graça de fazer parar um coração que nunca bateu?  

 

Texto Originalmente publicado em 03 de outubro de 2015.

Revisado em 01 de fevereiro de 2021.


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