A Carta
Ultimamente
não tenho feito muito sentido. Sinto que meu coração tem se apertado, apertado,
apertado e se tornado cada vez mais comprimido. Um coração destinado a ser tão
grande e que, por desventuras da vida, tornou-se um gigante reprimido.
Nunca
gostei de falar sobre mim. Aliás, sempre tive certo receio de expor meus
sentimentos, minhas palavras, minha arte ou até mesmo a minha voz... Falar era
difícil, apresentar qualquer trabalho era uma tarefa árdua. Porém, em alguns
momentos eu conseguia demonstrar uma outra parte de mim, uma parte que nem eu
mesmo tinha a noção de conhecer, uma parte romântica, forte, intensa, que sabia
se expressar, sorrir, gargalhar alto, conversar, mostrar tudo aquilo que quer e
deseja. Certa vez me perguntei: como sou capaz de der duas partes tão opostas
dentro mim?
Com o
passar dos anos eu aprendi que não havia duas partes opostas. Havia apenas uma
parte de mim, uma parte que se completava com vários pedaços – alguns opostos e
outros não – que se encaixavam em uma personalidade complexa e ao mesmo tempo
que era fácil de ser desvendada. “Decifra-me ou te devoro!”; esse era o desafio
da Esfinge de Tebas e acho que acabou tornando-se a frase que usei para me
definir. Por fora, uma casca impenetrável, onde poucas pessoas conseguiam
chegar ao interior. Aquelas que não conseguiam tocar meu coração, ganhar a
minha amizade ou o meu amor; acabavam por ser devoradas, mas pelo esquecimento.
Sempre
fiz questão de amar. Achava que o amor era o que me mantinha vivo, que me
impulsionava. Amor era aquilo que eu via em filmes e livros e me deleitava, me
imaginando como um príncipe num cavalo branco, ou então como aquele cara
atípico numa livraria que se esbarraria com uma belíssima mulher e assim
viveria uma das mais belas histórias de amor, uma história de amor eterno que
somente a morte seria capaz de findar. Como eu era tolo! Como eu era tolo por
acreditar que tais histórias pudessem acontecer. Como eu sou tolo! Como eu sou
tolo por acreditar que elas não mais podem acontecer. Como eu sou tolo por ter
perdido a crença no amor.
Amor
não é predestinado, é acaso. Amor não é escolha, é coisa de momento. Amor
tornou-se tão banal que hoje só serve para ser vendido: amor de interesse, de
livros, de filmes. Amor hoje em dia é coisa rara, quase impossível de se ver.
Amor é difícil de sentir, mas sentir nem somente basta. É preciso encontrar
alguém que sinta o mesmo por você. Amor é sorte. Amor não é uma coisa qualquer;
amor é a carta que falta para completar uma canastra tão difícil de se
completar: uma canastra chamada felicidade.
Texto Originalmente publicado em 22 de novembro
de 2015.
Revisado em 28 de junho de 2021.
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