Egoísmo
Meus pés alcançaram o chão.
Agora eles parecem não mais querer voar. Minhas asas foram cortadas, sem a
mínima chance de permitir um equilíbrio entre elas. Há apenas o chão. Meu
coração encontrou a frieza. Agora ele parece não mais se aquecer. Meu calor se
foi, sem a mínima chance de me manter quente por mais tempo. Meu corpo
encontrou a solidão. Agora ele não mais tem o teu. Suas mãos me foram
arrancadas, sem a mínima chance de segurá-las por mais tempo.
Minhas palavras se cansaram. Agora
elas parecem livres de sentimentos. Minha sensibilidade para o amor foi
adormecida, sem a mínima chance de um pedido para que elas ficassem um pouco
mais. Meus gestos tornaram-se incompletos. Agora eles não têm mais o reflexo
das tuas respostas. Eles foram mutilados sem a oportunidade de uma súplica, uma
súplica para que você não os deixasse morrer.
Meus textos tornaram-se
desmotivados. Agora eles são forçados. Minhas expectativas para com eles foram
suprimidas; tornaram-se até inexistentes. Minhas músicas soam repetitivas. Elas
já não me despertam mais os sentimentos que eu desejava. Tornaram-se obsoletas,
sem sentido. Tornaram-se apenas músicas aleatórias em meio a sentimentos tão
justapostos que parecem me sufocar com tamanha confusão. E que me sufocam.
Meus sentimentos... Ah, meus
sentimentos! Sempre tão questionados, tão desprezados. Amigos, amores,
conhecidos... Tantas mágoas, tantos tapas na cara levados em tão pouco tempo.
Tantas descrenças, tantas ilusões, quantas desilusões. Quantas pessoas plantando
suas palavras tão rudes em mim. Quantas pessoas procurando nada mais que um
amigo para lhes ouvir nas horas em que precisam. Quantos sorrisos arranquei,
quantas lágrimas enxuguei, quantos consolos eu dei. E em troca vi as mágoas, as
decepções, a frieza, as rudes palavras... Os esquecimentos. Os abandonos. Se eu
pudesse descrever a maioria das amizades que tive, eu as julgaria como
“estradas de mão única”; em que a única mão que era estendida era a minha.
Quantas noites questionei sobre suas mágoas, ouvi, aprendi, aconselhei,
ajudei... E em troca? Nada. Nem um
mísero “oi”.
Um brinde às amizades e aos amores verdadeiros, aqueles que nem o tempo nem a distância são capazes de apagar. Um brinde a todas as amizades oportunistas e egoístas que tanto nos ensinam. Um brinde a todos aqueles que um dia me fizeram chorar. Sem vocês, eu não teria aprendido a lição. Um brinde a todos aqueles que nos pedem horas de conselhos e nos dão em troca um simples “Vai passar!”. Um brinde a tudo que nos cerca, seja a mágoa ou a satisfação, a alegria ou a tristeza, a companhia ou a solidão. Um brinde a mim que tantas vezes guardei minhas lágrimas para enxugar as de outrem. Um brinde a mim que, mesmo sendo tão massacrado, continuo a acreditar no melhor das pessoas. Um brinde a mim e ao egoísmo que eu deveria ser capaz de ter.
Texto Originalmente publicado em 08 de novembro
de 2015.
Revisado em 30 de maio de 2021.
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