Máscaras
Música
alta, corpos saltitantes, mãos entrelaçadas, lábios colados e todos param ao te
ver entrar. Os cabelos ruivos em contraste com a negra máscara. Teu corpo
levemente desenhado – curvas tão realçadas –, o sorriso estonteante, tão misterioso...
Paro, olho, observo. Teu corpo em direção ao meu. Minhas mãos gelam. Eu não
posso! Vejo teu sorriso e o olhar dissimulado por trás da máscara. Tua mão em
direção a minha e, mais uma vez, jogo-me aos devaneios impensáveis da paixão.
Quando
dou por mim, estamos no meio do salão. Nossa dança é observada por todos.
Haveria algum espetáculo? Seríamos nós?
Teu
sorriso está mais próximo e continua tão belo quanto antes.
–
Porque foges de mim? – Ela perguntou.
– Não
sei. – Respondo nervoso.
– Você
tem medo?
– Não.
–
Então por que fugir? – Ela sorri, como se constatasse alguma verdade absoluta.
Não
havia razão para fugir daquele par de olhos – agora tão bem demarcado pela
máscara negra. Não havia razão para tanto medo, para tantos segredos. Se hoje
sou quem sou, sou fruto do passado, do nosso passado.
–
Quero ficar com você! – Imploro, peço.
– E o
seu medo?
– Eu
não tenho mais medo.
E
então ela me beija – sempre tão petulante e altiva. Todos ao redor nos
observam, perplexos. Ela se afasta e tudo o que vejo é um vazio. Um imenso
vazio. As pessoas ali nunca estiveram, ainda mais naquele quarto tão pequeno.
Não há dança, não há máscaras, não há a mulher por trás da negra máscara. Não
mais. Tudo o que me restou foi apenas aquela máscara em minhas velhas mãos.
Devo
estar louco. Sou tido como um louco há sete anos – quando vim “viver” nesse lugar
(ou seria morrer?). Acho que sou louco desde que me entendo por gente. Hoje
algo parece estranho. Ainda tenho aquela máscara em minhas velhas mãos
ensanguentadas. A máscara é real. Ela existe. Creio que essa seja a morte, mas
eu não a temo, nunca temi. Vejo-a em minha frente. Ela sorri e me ergue a mão
como na noite do nosso primeiro beijo. Ela me segura fortemente, como fiz ao
vê-la morrer. Agora não estou mais velho, estou jovem. Agora não estou mais só,
estou com ela. Agora não estou mais tão morto, agora eu vivo. Agora não estou
mais louco, agora amo.
Texto Originalmente publicado em 03 de fevereiro
de 2015.
Revisado em 18 de outubro de 2020.
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