Barreira de Sentimentos
Por
mais que as palavras queiram sair, elas tornaram-se difíceis. Escrevo linhas e as
apago. Tomo o caderno em minhas mãos e rasgo algumas folhas com poucas coisas
escritas. Nunca entendi meus bloqueios criativos. Acho que, por eu nomeá-los assim,
nunca reparei que é justamente nesses momentos em que mais quero criar. Ideias
e mais ideias, sonhos e mais sonhos; tantas coisas capazes de se tornarem
grandes textos e histórias, mas que, por algum infeliz motivo, acabaram ficando
presas na minha mente.
Aos
poucos fui analisando – me analisando – e tentando buscar a causa de tal
bloqueio. Foi então que, após algum tempo, descobri que não se tratava de um
“bloqueio criativo”, mas sim de um bloqueio de mim. Não sei se por medo das
boas ideias – pelo fato de tanto me cobrar e considerar necessária a opinião de
outras pessoas – ou por medo de elas terem surgido inspiradas em mim.
Nunca
fui bom para falar de mim. Não sei me definir, me elogiar e resumo minhas
características da forma mais simples possível. Não falo meus problemas, não
exponho meus sentimentos, minhas mágoas; nada. Acho que, por isso, tornei-me um
depósito de sentimentos não só meus. Acho que assim eu acabei criando em mim
uma barreira de sentimentos. Tornei-me o ombro amigo, o bom ouvido e então,
quando mais precisei, todos os ombros se afastaram, todos os ouvidos se
fecharam e até mesmo eu fui incapaz de me ajudar. E então disseram que era
drama, que era loucura, que era apenas “coisa da minha cabeça”. E no momento em
que mais precisava de um abraço – não de alguém para me aconselhar –, eu ouvi
inúmeros “Vai passar!”. Não ia passar tão fácil. Não passou.
Foi
ali, quando vi as últimas páginas serem escritas, quando vi as pessoas me
usarem, partirem e me partirem, que eu vi que eu era o culpado pelo meu próprio
fim. Os ouvidos abertos, os braços disponíveis, os “nãos” não ditos, os “sims”
malditos. Eu havia me permitido ser o coadjuvante da minha própria história.
Algumas
pessoas – na mesma situação que eu – desejariam o poder de voltar no tempo e
mudar o que aconteceu. Porém, eu não mudaria nada do que passou. Todos os erros
e mágoas e amores e traições fizeram de mim aquilo que eu jamais pensei que eu
fosse e o oposto daquilo que eu queria e pensei ter me tornado. Eu não havia me
tornando o “eu frio e forte” que pensei; mas acabei sendo melhor do que eu
sempre fui: um “eu” com um coração pulsante, em brasa, e capaz de enfrentar
qualquer desafio ou desapontamento. Por mais que eu odeie fazer elogios,
principalmente para mim, hoje faço questão de me olhar no espelho e dizer em
alto e bom som para todos aqueles que quiserem ouvir pela primeira vez em muito
tempo: eu me tornei a melhor parte de mim e eu tenho o maior orgulho disso.
Texto Originalmente publicado em 04 de dezembro
de 2015.
Revisado em 28 de junho de 2021.
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