Diálogo de um Amor Ferido

– Então quer dizer que você me ama? – Ela indagou.

– Amo. Amo com todas as minhas forças. Eu sou completamente apaixonado por você.

– Que lindo! Você me faz sorrir quando diz isso. – Pude ver um sorriso bobo se formar no rosto dela.

– Não é lindo. Não é lindo amar você.

– Por que não?

– Porque não é bom amar quem não ama a gente, quem não cuida da gente. É bom amar alguém que nos trate com valor, que nos respeite, que não pense que nos tem na hora que quiser. É bom amar alguém que, mesmo não te amando, te respeite; que diga o que quer que seja, que aquele é o momento errado, o lugar errado ou, até mesmo, que você é a pessoa errada. Não é bom amar alguém egoísta, alguém que só pensa em si e que só te procura nas horas em que a mente está confusa. Não é bom amar alguém que volta de tempos em tempos, diz que “gosta” de você, te assombra e então some, diz que não deveria ter falado aquilo. Dói você amar alguém inconstante. Dói você sentir seu coração ser arrancado do teu peito todas as vezes que pensa nela. Dói você saber que estragou momentos, oportunidades e, até mesmo, a sua própria vida. Dói saber que as mentiras ferem mais do que parecem. Dói você amar alguém que acha bonito que a amem, mas não é capaz de te dar a distância segura pra não te machucar. Dói amar alguém tão infeliz a ponto de te fazer sofrer. Dói amar alguém que não se importa contigo. Dói você se olhar no espelho e ter vergonha de amar aquela garota que tanto te feriu, mas que você não consegue esquecer. Dói amar você.

Ela calou-se. Pude notar a sua respiração ofegante – assim como a minha –, o seu olhar assustado. Ela, com a voz meio embolada, falou:

– “Fazer mal” é subjetivo. Como você pode ter tanta certeza de que me ama se eu te faço tanto mal?

Agora fui eu que me calei. Respirei, olhei no fundo dos olhos dela, segurei o choro e completei:

– Porque mesmo me fazendo tanto mal, eu ainda amo você. Quando a gente ama alguém de verdade, a gente ama os seus anjos e seus demônios; e eu infelizmente vi essas duas faces tuas e continuei a te amar.

– E não custa tentar?

– Não. Eu tenho medo.

– Medo? Que medo?

– De amar você.

Texto Originalmente publicado em 08 de dezembro de 2015.

Revisado em 05 de agosto de 2021.


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