Epílogo
As
folhas caíam das árvores naquele parque. Em suas mãos, um pequeno caderno onde
ele fazia questão de escrever na última página uma reflexão acerca dos finais
que o cercavam nos últimos dias. Era como o fim de uma história, era como se
todos os seus sonhos tivessem chegado ao fim.
– É
como o fim de um livro... – Ele lamentou inutilmente para si.
Começou
escrevendo sobre os finais tristes que haviam acontecido. Para ele, havia a
morte de alguém que sofria há muito tempo. As lágrimas não desceram. Ele pensou
em como aquilo tudo era um alívio para a dor daquela pessoa querida. Por outro
lado, ele havia chorado inconsolavelmente por – pela segunda vez – ter tido seu
coração partido por aquela que ele mais amou.
– Mais
uma vez... – Ele lamentou novamente.
Uma
lágrima insistiu em escorrer pelo seu rosto e ele deixou que ela rolasse. Não
havia ali mais vergonha de chorar. Ele abraçara a sua humanidade e se permitira
debulhar em lágrimas mesmo que não fosse uma “atitude de homem”. Ele chorou,
fechou o caderno, ergueu às mãos ao rosto e chorou por longos vinte minutos. Ao
fim, com os olhos vermelhos, enxugou-os na manga da camisa; catou a caneta no
chão e voltou a escrever.
Escrevera
sobre a mágoa que tivera mais uma vez com aquela mulher que ele mais amou, que
ele mais quis ter ao seu lado, e que foi a que mais o feriu, tão profundamente
quanto uma espada. Ela o magoara, o comparara a outro alguém, pisou em seus
sentimentos e o humilhou. Ele, no auge da sua tristeza, dissera a si mesmo que
não era capaz. Intensificou em si a culpa, feriu-se mais ainda e, por fim,
chorou mais e mais. Não era dele a culpa por amar, por desejar ter aquilo que
todos os outros casais tinham: a cumplicidade, o amor, a felicidade, as brigas
que eram resolvidas com simples diálogos e que, depois, viravam motivo de
piadas.
– Não
era minha culpa... – Ele repetiu para si finalmente enxergando a verdade.
Enxugou
as novas lágrimas que brotavam de seus olhos e continuou a escrever. Escreveu
sobre as amizades que não o valorizavam, escreveu sobre como ele havia se
tornado um depósito de sentimentos alheios. Por fim, chegou aos finais felizes.
Os romances que o rodeavam, as amizades que surgiam, as amizades que partiam,
as novidades, as oportunidades, tudo mais.
Parou
de escrever quando faltava metade de uma página. Aquele era o lugar reservado
para a sua autobiografia, onde ele poderia escrever sobre o seu “final feliz”.
Parou por alguns instantes, pensou e pensou, chorou, sorriu, lembrou, hesitou.
Não havia o que escrever. Seu final havia sido escrito pouco antes quando ele
citara a sua desilusão/decepção. Justo ele, o protagonista da sua história, não
tivera o final que merecia, o final que esperava.
Por
mais que a vida ainda o pudesse surpreender, seu coração havia parado
drasticamente. E embora tal situação fosse trágica, a poesia se fazia presente
em sua história. Por mais que um novo amor surgisse, por mais que seu coração
tentasse palpitar mais uma vez, seu corpo já estava frio, já não tentava mais
esboçar o calor que em outrora o fizera sorrir. Foi ali, em meio a tantas
decepções e perdas, que ele finalmente encontrara o que mais havia procurado:
ele mesmo.
Com
sua letra usual, escreveu “Fim” no canto da folha. Fechou o caderno, colocou-o
na mochila e saiu. Caminhou lentamente até a sua casa, admirando as folhas
caídas, o vento em seu rosto e as pessoas que passavam. Após um banho,
sentou-se com uma xícara de café em mãos, puxou da mesma mochila um outro
caderno. Abriu-o na primeira página, puxou a mesma caneta e escreveu: “Querido
diário, hoje é o primeiro dia de uma nova vida...”.
Texto Originalmente publicado em 16 de janeiro
de 2016.
Revisado em 28 de agosto de 2021.
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