O pé de Alface
Dia
desses me contaram que, para se plantar um pé de alface, temos de colocar
várias sementes juntas e, com o passar do tempo, ir removendo aquelas mudas que
nascem de forma “imperfeita”. Nunca plantei alface – e essa conversa me deixou
com vontade de fazer isso –, mas fiquei intrigado, já que a mesma pessoa que
contou essa história me disse que eu deveria ser uma pessoa mais persistente.
Foi então que indaguei: “E por que não podemos, simplesmente, abraçar aquilo
que não é perfeito?”.
É engraçado
como julgamos a imperfeição das coisas. Em nossas vidas, somos forçados
diariamente a lidar com casos e mais casos. Alguns possuem soluções rápidas,
imediatas, e outros possuem ainda mais casos desenrolados daquele problema
inicial. O que move o mundo são as perguntas? Então o que move a vida são os
problemas. Passamos dias e mais dias tentando lidar com eles, resolvendo,
lutando, enfrentando, acomodando, sorrindo, enfim... Lidamos das formas mais
diferentes possíveis com inúmeras situações, encontrando respostas, sossegando
por alguns segundos para, enfim, respirar.
Não.
Não podemos respirar tão fácil.
Muitas
pessoas acreditam na lógica da evolução linear do homem (aquela do homem bruto,
primata, até o homem moderno), porém, ao contrário do que se pensa, tal
evolução se deu de forma complexa: inúmeros ramos de uma árvore repleta de
acasos, problemas, outros problemas, soluções e mais problemas. Vivemos em uma
imensa árvore de evolução em nossas vidas. É uma árvore que nos aponta a
inúmeras direções, a inúmeros destinos e que, a depender das nossas escolhas,
nos levarão a finais diferentes.
Viver
é como plantar vários pés de alface. Alguns dos nossos desejos crescem, outros
morrem, sonhos nascem. Por mais que reguemos nossa horta do viver, alguns daqueles
pés crescerão de forma diferente, imperfeita aos olhos dos outros, mas ainda
assim serão alfaces – terão o gosto de alface. Assim são os nossos sonhos e a
vida. Embora os problemas nos atinjam, embora sejamos forçados a lidar com
eles, embora essas “alfaces” cresçam tortas; nós escolhemos se vamos jogá-las
fora ou se vamos abraçá-las em suas imperfeições. No fim, não importa como elas
crescem, o que importa é colhê-las.
Texto Originalmente publicado em 06 de janeiro
de 2016.
Revisado em 28 de agosto de 2021.
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