Eu Precisava Partir

 


Acho que, depois de tanto tempo, eu preciso me despedir de você. Não do nosso amor – porque esse se foi há muito tempo –, mas da nossa dor. Essa eu não consigo mais carregar, muito menos suportar. É preciso deixá-la ir.

Eu ainda me lembro de quando te vi pela primeira vez. Você corria em direção a mim com os braços abertos. O sorriso estampado na cara, os olhos brilhando. Acho que, ali, eu já sabia que iria te amar. O tempo passou. Trocamos juras de amor, fizemos promessas... Era como se eu vivesse um sonho, um conto de fadas moderno no qual eu esperava um final feliz.

Eu não sei em que momento nos perdemos. Acabamos por nos magoar inúmeras vezes e, no fim das contas, eu escolhi partir. Hoje eu sei o quanto você me odiou por aquilo, mas eu precisava ir embora.

Eu precisava partir.

Enquanto eu carregava as malas, vi o seu reflexo pelo espelho. Você me olhava com um olhar triste. Parecia querer que eu voltasse e dissesse que estava tudo bem, que eu iria, mais uma vez, suportar todos os teus erros, esquecer o que aconteceu e que, na manhã seguinte, seríamos o casal mais feliz de todos. Você teria aberto os seus braços mais uma vez para mim. Eu sei que sim. Por mais que eu quisesse olhar para trás, olhar nos teus olhos... Eu não podia. Não mais.

Eu precisava partir.

No decorrer da nossa história, mudamos tanto – para o bem e para o mal. Não éramos mais aquele casal de anos atrás, com aquele brilho no olhar, com aquele sorriso estampado no rosto, com aquelas encantadoras borboletas no estômago... Nós estávamos diferentes e, na tentativa de manter as nossas promessas de amor eterno, acabamos por não enxergar que não nos encaixávamos mais no mesmo lugar. Mágoas constantes – de ambas as partes –, beijos quase inexistentes... Tudo foi desaparecendo ao longo do tempo e parecíamos ser um par de estranhos vivendo sob o mesmo teto. Não havia mais aquele amor. Havia a cumplicidade, o afeto, talvez até uma dose de amor fraterno, mas aquele desejo de antes... Este havia ido embora há muito tempo. Só nos restou as promessas e o desejo de continuar a nossa história – mesmo que já não fôssemos mais felizes.

Eu não sei quando nos perdemos um do outro. Não sei quando o nosso amor deixou de existir. Não sei se foi quando eu te magoei, quando você me magoou. Trata-se de algo que eu jamais vou conseguir descobrir.

Quando abri a porta, eu parti. Talvez você não pudesse ver os meus olhos, mas eles estavam cheios de lágrimas. Entrei no carro e parti para o mais longe que eu pudesse. Por mais que eu quisesse chorar, algo me prendia. Como se, no fundo, eu soubesse que a nossa história devesse acabar. Como se fosse a coisa certa a se fazer...

Eu precisava partir.

Não apenas por mim, mas por você e, também, pela nossa história.

No fim das contas, o que restou de nós? O que ficou da nossa história, do nosso amor, até mesmo de nós dois? Seguimos rumos diferentes, vidas praticamente opostas. Parece estranho que tanto tempo tenha passado, mas que, ainda assim, você esteja aqui. Não como uma saudade, não como apenas uma mágoa, mas como uma lembrança, como um souvenir que carrego ao lado do peito para saber que, não importa as circunstâncias, não importa o meu medo, o amor existe.

E, dentre tantas coisas boas e ruins, eu hoje posso finalmente dizer o quanto eu fui feliz por amar você.

O quanto eu fui grato por amar você.

O quanto eu fui feliz nos teus braços.

O quanto amei você.

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