A Garotinha

E lá estava eu: quieto, calado, sozinho, triste. Foi quando surgiu a pequena garota, a garotinha do sorriso doce, alegre, com a aparência de uma menina de dez anos, mas a maturidade de alguém de mais de sessenta. Eu a conhecia há um tempo e havia algo nela que me encantava, que me fazia enxergar um eu que não existia mais. A diferença de idade não era tão grande; ela tinha quinze, eu tinha vinte e um. E ao contrário do que alguns já podem estar pensando, não se tratava de uma história de amor clichê, tratava-se de uma conexão. Sempre que eu a encontrava, apertava suas bochechas e algo em mim fazia com que eu sorrisse. Ela era pura, com uma alma tão pura quanto a de um anjo. Ela sorria para mim de forma tímida e eu sentia um amor tão grande quanto o de um pai para uma filha.

– Pode ver se gosta, tio? – Ela sorriu, me chamando da forma que eu impusera que ela me chamasse.

Olhei os textos e deduzi que fossem dela. Textos tão puros e mágicos quanto a alma daquela garotinha.

– São teus? – Indaguei e ela confirmou.

Um sorriso se preencheu no meu rosto. Havia mais uma paixão em comum entre mim e aquela garotinha que parecia adivinhar meus momentos de maior tristeza e me surpreender com mensagens do tipo “Nunca deixe de ser quem você é!”. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto devido ao orgulho ou a minha tristeza.

– Por que você se escondeu por tanto tempo, menina?! – Perguntei sorrindo.

– Eu ainda estou meio escondida... Sei lá... Tenho medo... Das pessoas. – Ela riu. – Não acho bom o suficiente. Só mostrei para pessoas muito próximas.

Ela parecia comigo. Foi quando olhei ao meu redor e vi o que havia feito recentemente. Pelo medo das pessoas, eu havia perdido alguém que eu amava. O meu medo, a minha insegurança, todos os meus problemas. Eu havia permitido que o medo controlasse quem eu era e acabei machucando quem eu amava.

– Suas palavras são lindas! Não tenha medo! Não faz que nem eu. Não se esconde com medo das pessoas. Não seja um ‘eu’. Não deixa que o teu medo te controle. Bota um sorriso no rosto e mesmo que ele seja falso, se joga à multidão. Não se impeça de ser feliz. Se permite, se joga, fala, grita, berra, ama, sofre, faz o que for; mas não se esconde por medo. Ele pode nos destruir se a gente não deixar.

Ela ainda não sabia do que o mundo era capaz, ela não sabia que o mundo iria feri-la várias e várias vezes, que as pessoas iriam trai-la, que iriam mentir, sumir, fugir; mas ali, naquele momento, eu tive uma das maiores certezas da minha vida: eu estaria com ela pra o que desse e viesse. Eu não ia impedir que o mundo a fizesse chorar, mas eu ia fazer questão de estar com ela todas as vezes que isso acontecesse para poder enxugar as suas lágrimas e impedir que um dia ela se tornasse como eu. Para impedir que um dia ela pudesse sabotar a sua própria felicidade. Para impedir que um dia ela afastasse alguém que ama. Para impedir que ela cometesse os mesmos erros que eu.

 

Texto Originalmente publicado em 08 de janeiro de 2016.

Revisado em 28 de agosto de 2021.

 

Comentários

  1. Sinto-me agraciada por ser essa garotinha... Mas, me sinto ainda mais feliz por já ter ouvido a maioria dessas palavras ditas, pessoalmente, por você. Tio Aníbal, não quero que se sinta só e espero que todos os seus conselhos sejam seguidos por você mesmo! Estou esperando seu próximo sorriso. Sorria para a garotinha, sorria para a vida e corra atrás do que você acha que perdeu!

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