O Natal. O sorriso. A mulher.

Era uma manhã qualquer. Fazia calor. A luz do sol era tão forte que parecia me cegar sempre que eu tentava abrir meus olhos um pouco mais. Enquanto caminhava até o banheiro, sentia uma felicidade tomando conta de mim. Férias. Eu precisava daquilo; precisava descansar, relaxar, esquecer um pouco do mundo ao meu redor, dos prazos, das obrigações... Queria apenas ficar em paz comigo mesmo.

Ao sair do banheiro, avistei uma senhora. Ela sempre estava ali. Trabalhava lá. Quase nunca eu a via sentada. Sempre estava a limpar o banheiro ou a arrumar alguma sala ou, então, a alimentar um cachorro que por ali ficava. Ela estava sentada em uma pequena sala, de costas para a porta, mexendo no celular. Eu sempre a cumprimentava e ela, sorridente, me respondia:

– Bom dia, meu querido!

Dei duas batidas na porta, ela me viu, sorriu e então eu a desejei um Feliz Natal e um Feliz Ano Novo. Ela retribuiu o carinho e começou a chorar. Meus olhos se arregalaram. Entrei no pequeno cômodo e perguntei o que havia acontecido.

Ela, ainda chorando, me respondeu:

– É que ninguém nunca me desejou algo assim por aqui. Eu pareço não existir.

Meu coração apertou. Instintivamente, eu a abracei. Um abraço forte, apertado. Ela deu alguns tapinhas em minhas costas e, quando nos afastamos, ela sorriu. Conversamos por um tempo e eu praticamente me esqueci que ainda estava em aula. Naquele momento, algo tomou conta de mim. Um sorriso parecia ter se aberto meu rosto e uma felicidade tomara conta do meu peito.

Nunca gostei da exibição de tais boas atitudes. Nunca quis ser uma boa pessoa para mostrar ao mundo quem eu era ou em busca de uma recepção. Apenas fiz algo que, para mim, era algo normal. Um simples “Feliz Natal” para alguém que eu via todos os dias, que eu fazia questão de cumprimentar todos os dias.

Não lembro de ter contado essa história para alguém além de minha mãe. Carreguei aquele momento comigo. Um momento triste – pelo que ela me contara –, mas extremamente feliz, tanto para mim, quanto para aquela mulher sorridente.

Hoje, enquanto eu pensava sobre a saudade, sobre as pequenas coisas que nos acontecem diariamente, sobre os encontros que nos marcam, achei que fosse a hora de falar para alguém sobre isso. Já faz mais de um ano que tudo aconteceu. Ainda carrego comigo aquele sorriso e, também, aquelas lágrimas. Talvez, desejar aquele “Feliz Natal” fosse apenas uma convenção, uma regrinha social, mas que, naquele momento, tomara uma proporção muito maior.

Nem eu nem ela saímos os mesmos daquele encontro.

Não sei o que ela sentiu após aquilo. Pelas suas lágrimas e pelas suas palavras, me pareceu ser felicidade, reconhecimento.

Eu saí com uma sensação de paz, de saber quem eu sou de verdade e, acima de tudo, por ter feito algo de bom. Como algo tão simples pode ser tão importante para alguém...

Acho que viver é isso. É levar, em certos momentos, pequenas doses de cuidado para os outros, pequenos momentos felizes que possam – até mesmo – mudar a vida de alguém. Poucas coisas no mundo me deixaram tão feliz quanto o sorriso daquela mulher. Talvez ela não tenha noção de que, no final das contas, naquele dia, foi ela quem me salvou.

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