Quando o amor não tem mais uma única direção
Uma das coisas mais dolorosas
que pode existir, ao meu ver, é o fim de uma relação. Seja na amizade ou no
amor, é difícil dizer “adeus” ou “até logo” para alguém que amamos. Se houve
mágoa ou não, se foi um fim pacífico ou não, se afastar de quem se ama é sempre
algo perturbador. Como seguir em frente agora que ele/ela não está mais aqui?
Parece meio estranho, mas muitas pessoas acabam acreditando numa vida ao lado
daquela pessoa amada, com filhos, com gatos, cachorros, viagens, ou com nenhuma
dessas coisas; enfim... E então, como num passe de mágica, tudo simplesmente se
acaba.
Eu sempre tive dificuldade em
entender aquelas relações onde ainda há amor, onde não houve traição, mágoa,
nada, mas que as pessoas optam por simplesmente seguir caminhos distintos. É
aquele momento em que o amor não tem mais uma única direção, mas várias possibilidades.
Há uma incerteza sobre o futuro, há uma incerteza sobre o agora, sobre o “nós”.
Continuar ou não? Quando é o momento certo para seguir um rumo diferente?
Quando saber que é a hora de se afastar daquele alguém que você ama? Eu não me
refiro aqui aos relacionamentos abusivos, tóxicos ou àqueles em que há uma
traição ou um motivo para que haja um fim. Eu me refiro àquelas histórias de
amor em que você não consegue mais se enxergar ao lado daquela pessoa, por mais
que você a ame e a queira bem. Quando parece faltar algo que você não sabe o
que é e que talvez nunca vá descobrir.
Há alguns anos comecei a pensar
sobre isso. Cogitei que talvez fosse porque as pessoas tivessem objetivos
diferentes, talvez fosse porque elas passassem a “vibrar” em frequências
diferentes... Enfim, havia algo nesse tipo de situação que me inquietava: se há
amor, se está tudo aparentemente bem, porque se separar? Por mais que eu
tentasse refletir sobre essa questão, a resposta veio durante a leitura de um
artigo. O meu erro durante todo esse período foi pensar no todo e não nas
partes que o compõem. É inevitável que, ao longo do tempo, mudemos nossas
formas de pensar e/ou de agir. É algo natural do ser humano. Seja no trabalho,
na faculdade, num grupo de amigos, com a família, ou até mesmo com o/a
namorado/namorada, acabamos por modificar algumas atitudes e, até mesmo, nossos
objetivos. Somos mutáveis!
A verdade é que, ao falar de um
casal, sempre pensamos num uníssono, algo com uma harmonia que acreditamos ser
eterna. Ao amar alguém, passamos a viver em um verdadeiro emaranhado de
situações, boas ou ruins, que nos afetam não apenas enquanto dois – ou mais,
não esqueçamos dos relacionamentos poliamorosos –, mas também enquanto um’s.
Estar com alguém vai muito além daquela relação. Trata-se também de um
redescobrir-se e reinventar-se constante e que, muitas vezes, acaba levando
aquelas pessoas em direções diferentes, até mesmo opostas.
Parece inevitável que queiramos
estar com aquele alguém que amamos pelo resto das nossas vidas. É inevitável
não acreditar no “felizes para sempre”. Para mim, a felicidade de uma história
de amor não se deve à sua duração ou à sua intensidade. Talvez, no fim das
contas, seja como disse Vinícius de Moraes:
“Que
não seja imortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure”.
E que dure um dia, uma semana,
um mês, um ano, uma década, uma vida... Mas que possamos ser felizes enquanto
esse amor ainda puder existir.
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