Quando Tudo Isso Acabar
Quando
tudo isso acabar, eu já decidi: pretendo fazer várias coisas que tenho vontade
e que ainda não pude fazer. Talvez eu tome tequila, talvez eu vá ao cinema
sozinho, talvez eu sente em um bar e finja ser alguém que eu não sou. Talvez eu
viaje para algum lugar isolado ou para um lugar agitado – e olha que eu nem
gosto tanto assim de viajar. Talvez eu vá para uma praia – embora eu não seja
tão fã assim delas. A verdade é que, quando tudo isso acabar, eu quero
experimentar as mais diversas coisas que a vida tem para oferecer.
Acho
que talvez todo esse caos tenha me proporcionado uma das experiências mais
reveladoras sobre mim mesmo. Foi preciso que o mundo praticamente parasse para
que eu começasse a enxergar certas coisas – não apenas sobre mim, mas também
sobre as pessoas ao meu redor. Foi em meio ao caos da pandemia que eu acabei
(re)encontrando e (re)conhecendo um pouco mais do meu amor próprio.
Em
meio a tudo isso que tem acontecido, em meio às minhas crises de ansiedade, ao
meu medo de sair de casa para ir simplesmente comprar um pão, eu tenho tido
tempo para me observar um pouco mais. A verdade é que, para alguém que fica fora
de casa das 7h até as 22h quase todos os dias, perder essa rotina me causou uma
angústia enorme. Foi perturbadora a sensação de não-ter-o-que-fazer e de
não-saber-por-onde-ir. Eu precisei ficar parado, estagnado, sem muitas mudanças
que pudessem me movimentar, para que eu pudesse tentar descobrir quem eu era/sou
por trás de tudo aquilo que faço.
Daí
veio a ansiedade, com toda a sua intensidade, me fazendo imaginar mil e um
cenários caóticos. Até que um dia, em meio a todo o caos interior e exterior,
eu resolvi recomeçar. Um novo rumo, uma nova vida – talvez –, um novo Eu...
Logo eu, que sempre tive medo de muitas mudanças.
Quando
tudo isso acabar, eu quero pensar mais em mim. Não dessa forma egoísta que
vemos por aí, mas talvez de uma forma menos altruísta do que a que eu tentava
seguir. Eu quero ter tempo para parar, pensar sobre o tempo e esperar o tempo
passar. Eu quero ler mais, aproveitar
mais, sorrir mais, viver mais. Não falo aqui daquele viver adoidado que tanto
aparece nos filmes, de simplesmente “meter o louco”, mas de um viver mais
focado em mim, no que eu quero, nos meus desejos, nas minhas vontades, viver
quem eu sou e não quem as pessoas querem que eu seja.
Quando
tudo isso acabar, eu quero abraçar abraços apertados! E me perdoem por essa
redundância, mas eu precisava enfatizar essa intensidade. Eu quero poder dar
risada das piadas contadas, dos casos engraçados, das aventuras amorosas
frustradas ou não. Eu quero poder olhar ao redor e simplesmente parar,
encantado, admirando tudo aquilo que me cerca. Eu quero aproveitar cada minuto
com todos os seus cheiros, sons, cores e sabores, por mais amargos que eles
possam ser.
Em
meio a tantas mortes, a tantas perdas, a tanto caos, essa esperança tem sido o
que me mantém firme nos últimos tempos.
Quando tudo isso acabar, o meu único desejo é, simplesmente, viver!
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