Sentimento #011 – Perdão
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Nelson Rodrigues
Uma das coisas que mais detesto
dentro da lógica cristã – e que acabou se expandindo como um paradigma da
bondade – é a noção de que devemos sempre perdoar.
Sim. Eu acredito que o perdão é
algo extremamente belo e que viver na lógica de uma mágoa é algo danoso para o
nosso bem-estar físico e, principalmente, emocional. Porém, eu não acredito
nessa ideia de que devemos passar uma borracha sobre o que aconteceu e seguir
as nossas vidas como se nada tivesse acontecido. Trata-se de uma verdadeira
crueldade contra o nosso próprio querer.
Isso me remete à ideia do perdão
que não é genuíno. Na verdade, acredito que devemos perdoar quando quisermos,
quando nos sentirmos preparados para isso.
O perdão não deve ser uma mera
obrigação.
Creio eu que certas coisas são
irremediáveis e imperdoáveis, que nos ferem e nos machucam da mais cruel forma
possível. Não acredito que devamos perdoar simplesmente porque o Senhor ou
porque a sociedade espera que o perdão seja um gesto de altruísmo.
O problema é que, em prol dessa
lógica do perdão, muitas vezes acabamos por nos submeter aos mais diversos
tipos de abuso. “É preciso perdoar”, eles dizem.
Não. Não penso assim.
Uma coisa é perdoar. Outra,
completamente diferente, é continuar aceitando aquilo que não nos faz bem.
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