A Insustentável Beleza de Ser
Assim que mandei aquela
mensagem, senti um enorme alívio. Era como se eu fizesse as pazes comigo mesmo
e tivesse tirado um peso das minhas costas. Segui até o quintal para terminar
alguns afazeres e, ao regressar ao meu quarto, percebi a ausência da resposta,
marcada por algumas palavras em rede social e um bloqueio – não como um
bloqueio criativo ou como aquele do Canal de Suéz. Era um bloqueio de alguém
mais do que especial.
Estranhei.
Ao reler a minha mensagem, não
consegui compreender o motivo que poderia ter causado aquilo. Eu apenas havia
agradecido a leitura de um dos meus livros e a nota atribuída a ele. Falei
também sobre como aquela nota – mediana, ao meu ver – havia sido estranha para
mim, no começo, mas que, algum tempo depois, eu finalmente conseguira entender.
Não tenho problemas com as
críticas. Pelo contrário, gosto delas. Lembro que, após lançar meu livro,
passei quase quatro horas seguidas conversando com uma colega – não tão próxima
assim na época – sobre as inquietações que ela tivera com o meu livro. Saí
feliz daquela “pequena” conversa de Instagram... Para um autor, seria
frustrante se todas as pessoas recebessem os nossos livros da mesma forma.
Gostamos da diversidade de sensações e de emoções. Essa é uma das coisas que me
inspira a escrever.
Se eu soubesse as consequências
do meu agradecimento, talvez eu nem tivesse mandado nada. A resposta veio na
mesma rede onde fora atribuída a nota. O “três” virara um “um” (perdão pela
redundância, mas achei necessária para enfatizar a nota). Não vejo nenhum mal
nas notas “um”, mas sim na crueldade – e esta veio na forma de palavras mais do
que duras de alguém que, até uns dois anos atrás, era uma das minhas melhores
amigas.
Meus personagens eram chatos,
imaturos e pareciam ser impossíveis de gerar uma identificação. Não me
incomodaria que dissessem tais palavras dos meus personagens, afinal de contas,
nunca desejei trazer, na minha escrita, personagens perfeitos e sem defeitos –
nenhum alecrim dourado, como me acusaram de tentar ser. A verdade é que sempre
gostei de histórias reais, com personagens reais, com defeitos reais e, por
mais que eu não me considere nenhum grande escritor, acredito SIM na qualidade
da minha escrita.
É inevitável que as pessoas não
reajam da mesma forma a uma obra – afinal de contas, como já disse, esse seria
o pior pesadelo de um escritor. Nem mesmo grandes autores conseguiram
unanimidade. Por que eu, um simples autor iniciante, iria desejar isso?
O que me incomoda não são as
críticas, as notas, os comentários e muito menos o fato de algum amigo meu não
ler uma das minhas obras. O que me incomoda – e aqui me refiro não apenas ao
mundo da escrita – é essa necessidade gratuita de disparar o ódio em redes
sociais contra alguém pelo simples fato de achar que aquela pessoa fora arrogante
ao te agradecer por uma avaliação. Acho que esse talvez tenha sido o estopim...
Não guardo mágoas, não tenho
raiva. Na verdade, continuo a desejar tudo de melhor a essa pessoa, como sempre
desejei – mesmo quando falhamos um com o outro ao longo da nossa amizade.
Que não lhe falte felicidade,
amor e carinho.
No final das contas, talvez seja
como minha mãe sempre diz: nós damos ao outro apenas aquilo que temos. No meu
caso, eu prefiro continuar espalhando amor, gentileza, carinho e, claro, muita
literatura chata e de qualidade para aqueles que gostam das minhas obras.
*O
título desse texto é uma referência à obra “A Insustentável Leveza do Ser”, de
Milan Kundera.
Comentários
Postar um comentário