Sentimento #042 – O Tempo e Eu
“A
nossa vida é feita de tempo. Nossos dias são mensurados pelas horas, nosso
salário é mensurado por essas horas, o nosso conhecimento é mensurado pelos
anos. Agarramos uns minutinhos do nosso dia sempre ocupado para fazer uma pausa
para o café. Voltamos correndo pra nossa merda de trabalho, olhamos pro
relógio, vivemos em função dos compromissos. Mesmo assim, quando esse tempo
enfim acaba, bem lá no fundo você se pergunta se esses segundos, minutos,
horas, dias, semanas, meses, anos e décadas foram gastos da melhor maneira
possível.
Tudo
está girando ao nosso redor – o emprego, a família, os amigos, o parceiro ou
parceira... Tudo o que você sente é aquela vontade de gritar ‘PARE’, olhar à
sua volta, reorganizar a ordem de algumas coisas e aí seguir adiante.”
–
Cecelia Ahern (em Simplesmente Acontece)
Durante a pandemia, tenho
pensado muito sobre o tempo. Acho que, na verdade, ele ganhou uma nova dimensão
desde o ano passado. Antigamente, o tempo parecia se organizar em função do
futuro, das nossas expectativas, dos nossos planos... Com a pandemia, o mundo
parou. O ontem é marcado pela saudade, o hoje pela esperança e o amanhã pela
incerteza.
Em meus dias inquietantes de
angústia sobre o futuro, comecei a pensar sobre mim, mais precisamente sobre o
meu passado e sobre o meu presente. Antes de tudo isso, eu vivia meus dias em
prol dos meus afazeres, sendo marcado pelo cansaço e pelas obrigações que nunca
paravam de chegar. E então, como num passe de mágica, tudo parou. Eu não tinha
mais a rotina de antes, mas as angústias que eu carregava dentro de mim
insistiram em ficar aqui...
Talvez esse seja um dos raros
pontos positivos do isolamento: sem o mundo lá fora “em carne e osso”, eu fiquei
refém de mim mesmo, dos meus pensamentos... Acabei começando a olhar para onde
eu evitava há muito tempo: para mim mesmo. Foi quando eu percebi que havia
muito a ser mudado em mim...
Foi – e tem sido – um longo
processo. Olhar para si mesmo, enfrentar os próprios medos, as próprias
angústias... É assustador. Porém, o pior de tudo é descobrir que você tem sido
o seu próprio antagonista, um vilão da sua própria história, alguém que insiste
em te machucar, mas que, ainda assim, é você mesmo. Enquanto o mundo girava ao
meu redor, eu tinha tempo para tudo, menos para mim...
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