Transbordar-me
Eu não
tenho me entendido ultimamente. Ando estranho, calado, quieto... Sereno. Dizem
que depois de toda tempestade vem a calmaria, mas, mesmo assim... Tudo me
parece estranho demais, vazio demais, silencioso demais, faltante demais.
É
estranho olhar ao redor e sentir uma solidão iminente mesmo quando você não
está tão só quanto pensa. Parece que há uma angústia, uma sombra que paira
sobre nós nesses momentos e que nos impede de enxergar o mundo lá fora. Nos
voltamos para nós mesmos e nada parece fazer a diferença. Palavras não bastam,
gestos não bastam... Nada consegue aplacar esse sentimento, esse vazio.
Tudo
parece estranho.
É como
se eu estivesse vivendo o que costumo chamar de pequeno inferno, aquele momento
em que torturamos a nós mesmos com as nossas angústias, buscando entender algo
que sequer sabemos o que é. O momento em que nada parece fazer sentido e que
nada será capaz de mudar. Um sentimento de vazio em meio à sensação de
transbordamento.
Acho
que é isso... Estou prestes a transbordar de mim mesmo. Estou prestes a
transbordar os meus sentimentos, as minhas lágrimas, as minhas palavras – e
talvez agora eu esteja a transbordar. É como se eu não fosse capaz de me conter
em mim mesmo, mas não de felicidade...
Sinto
que o mundo lá fora não existe. Vejo-o se apagar aos poucos enquanto os meus
olhos fecham – olhos cansados que buscam um momento de sossego, de amor, de
qualquer-coisa-que-me-faça-sentir-algo-bom.
As
luzes se apagam. As cortinas se fecham.
Fim do
espetáculo.
Ou seria
o começo? Recomeço talvez? Não sei.
A
verdade é que agora transbordo-me ainda mais, não apenas em palavras, mas em
minhas próprias emoções, em minhas próprias lágrimas. Acabo de transbordar-me
em mim mesmo. Acabo de sufocar-me com as palavras não ditas, com as saudades
não permitidas, com os amores não vividos... Como se tudo e nada surgisse ao
mesmo tempo de mim.
Então
eu paro. As luzes se apagam. As cortinas se fecham. Fim do espetáculo.
É hora
de uma nova história.
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