Seis da Manhã

Mal raiava a manhã de segunda, o sol das seis invadiu o quarto e Milena se viu sozinha mais uma vez. O fim de semana tinha sido agitado, com saídas, festas, amigos, amigas e alguns beijos sem graça. A bebida ainda fervia seu estômago e a cabeça continuava tonta. Aquela sensação estranha da ressaca era mista. Milena odiava perder o controle e a sensação de desconforto da manhã seguinte, mas amava a leveza que uma dose de cuba libre trazia.

Levantar da cama parecia um sacrifício, e talvez de fato fosse. Encarar a vida era algo que Milena ainda não tinha se acostumado, mesmo com seus vinte e poucos anos. Mas a vida não parava e a faculdade gritava seu nome. Ainda de pijama, ela se arrastou até a cadeira de madeira velha que tinha pegado na casa de sua avó e ligou o notebook. Na tela de bloqueio a foto da última viagem a Porto Seguro no ano retrasado contrastava. Ela estava feliz. Pedro ainda era seu namorado, Aline ainda telefonava e o mundo ainda era um lugar comum. Ou ela pensava que era feliz.

Digitou a senha, seus dedos pareciam pesados pilares de pedra que com dificuldade tocavam as teclas do teclado. Entrou na sala... 40 outras pessoas, estranhas e conhecidas, ocupavam o mesmo lugar que ela, mas em lugares diferentes. Câmera fechada, obviamente, ninguém precisava ver os olhos de ressaca dela, ou o cabelo emaranhado, ou o camisão que vestia, “roubado” de Pedro há alguns meses, e que decidiu queimar no mês passado, mas havia guardado debaixo do travesseiro pra enxugar as lágrimas – o lenço de papel tinha acabado. Seus pensamentos viajavam na maionese, ou na cuba, tanto faz. Ela olhava para as fotografias que estavam presas na parede com fita adesiva, seu sorriso estampava metade delas, a outra metade era enfeitada pela saudade. Cada lembrança moía seu coração e a garganta queimava. Os lábios, levemente avermelhados e que já tinham sido beijados e tocados por tanta gente, agora tremiam num impulso incontrolável de chorar.

- Milena? – a voz virtual da professora cortara o clima, e como um anzol, fisgou Milena de volta ao fatídico mundo real.

- Presente.

Será?  

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