Seis da Tarde

Alberto pegou o casaco pendurado no recosto da cadeira e vestiu. Tinha sido um dia cansativo. Ele sentia isso nos calos dos seus pés. Todas as segundas eram cansativas, mas aquela em especial parecia ter um gosto muito mais amargo de cansaço. Guardou seus materiais na maleta surrada de couro preto que tinha ganhado de sua mãe quando se formou, trancou a gaveta e apagou a luz da sala. Trancou a porta e passou pelo corredor quase vazio.

- Já vai, doutor? – a voz do faxineiro atravessou seus ouvidos e o despertou daquele cansaço.

- Já, seu Zé. Hoje à noite eu tenho um compromisso. Lhe vejo amanhã?

- Como sempre, doutor. Até amanhã!

Com um último sorriso, se despediu de Zé e caminhou até o carro. Girou as chaves e ligou o motor. Olhou as notificações do celular antes de dar a partida. “Jantar no Florescer às 18, tá lembrado?”.

“Impossível esquecer” digitou com um sorriso. Há muito tempo não sentia uma sensação tão gostosa. Era como se a vida estivesse de volta, e seu pulmão de mais de meio século, recebesse ares novos. Tirou o pé da embreagem e acelerou o carro, que deslizou quase flutuante sobre a pista de asfalto. As luzes do pôr do sol dançavam a sua frente e fazia o mundo parecer mágico. O dia se aproximava do fim, mas ainda não era o fim. Alberto sentia esperança, seu coração acelerava num ritmo gostoso e as famosas borboletas voavam pelo seu estômago. O tempo parecia correr, como ele corria para os braços de quem o esperava. Se sentia vivo.

Estacionou na frente do restaurante. Desceu do carro. Seus calos já não incomodavam mais. Abriu as portas de vidro do local e a luz do entardecer invadiu o ambiente. Um raio de luz posou numa mesa no canto do salão, Alberto caminhou até ela com um sorriso. Amar nunca tinha sido seu forte, mas enfim encontrara o motivo de nunca ter vivido um grande amor na juventude, era porque ele ainda estava para nascer. Se aproximou da mesa e sentou na cadeira de frente para seu grande amor.

- Boa noite, doutor Alberto, achei que não chegaria nunca – seu par falou com um sorriso.

- Eu não me atrasei, Bruno, você quem me fez esperar 50 anos por esse momento.

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