Solidão

Uma das coisas que a pandemia mais me fez pensar foi sobre como estou só. Acho que eu não tive a noção disso até me ver completamente isolado em casa. Antes, eu parecia estar cercado de pessoas... Seja na universidade ou no teatro, sempre que eu olhava ao redor, era possível encontrar alguém. Mesmo assim, havia em mim uma sensação de solidão, como se todas aquelas pessoas ali não estivessem realmente comigo – e por incrível que pareça, eu estava certo.

Pouco depois da morte do meu cachorro, em abril do ano passado, fui inundado com esses pensamentos mais uma vez. Eu não tinha com quem conversar. Não tinha com quem desabafar. Vivenciei aquela dor de uma forma reclusa, contando apenas com o apoio – grandioso, diga-se de passagem – de minha mãe. Mesmo assim, era como se faltasse algo. Era como se nenhuma daquelas pessoas, que antes estavam ao meu redor, continuassem ali.

Óbvio que, como toda boa pessoa autodepreciativa, comecei a imaginar cenários caóticos, nos quais eu não merecia ter pessoas ao meu lado ou que talvez eu fosse uma pessoa ruim... Demorou um tempinho até eu perceber que não era bem aquilo... Era apenas uma solidão. Uma triste e cruel sensação. Eu estava sozinho e, daquela vez, não era como antes – eu não me via cercado de gente e com a falsa esperança de que não estava sozinho –, era diferente... Eu parecia estar realmente só.

Vi colegas – que antes eu achava serem amigos – seguirem as suas vidas, encontrarem novos rumos... As mensagens não mais chegaram. Eu não podia mais oferecer caronas, não podia mais emprestar textos para que eles tirassem cópias, eu não podia mais consolar presencialmente, eu não podia mais ajudar com trabalhos, não podia mais tirar fotos ou fazer vídeos, eu não podia mais ser a pessoa que chamavam apenas para terem com quem voltar para casa... O que é engraçado... Antes, quando eu era necessário, eu nunca parecia estar só. Porém, hoje, olhando para trás, consigo perceber que mesmo ali, naquela época, eu já estava sozinho... Eu não tinha com quem conversar, com quem desabafar... Eu era apenas necessário.

Eu não tinha ninguém.

Creio que essa talvez seja uma das melhores – e mais dolorosas – conquistas que tive durante a minha vida: eu aprendi a abraçar a minha solidão. Talvez eu ainda não tenha me acostumado totalmente a ela, talvez eu ainda espere que vá aparecer alguém e me dar um “oi”, um sorriso qualquer ou algo do tipo... Além disso, eu não me enxergo mais como alguém ruim, que não merece ter amigos ou que não é bom o suficiente para estar presente em outros momentos... Eu não tenho culpa pela forma com que as pessoas me tratam. A minha culpa parecia estar em simplesmente deixar que elas me tratassem assim. Acho que, talvez, esteja tudo bem em ser dessa forma... Sozinho... Em viver em paz comigo mesmo...

Talvez, no fundo, a solidão não seja de todo ruim... Afinal de contas, de que adiantaria viver cercado por tantas pessoas e não poder contar verdadeiramente com alguém?

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