Vilão de Mim
Dia desses, fui tomado por uma
angústia profunda. Por mais que aquela situação me fosse familiar há um tempo, não
me angustiei pela vontade de me encaixar ou pelo medo do que as outras pessoas
iriam dizer diante daquilo que eu sentia. A minha angústia foi por que, ao
olhar para mim, percebi um remendo. Eu não era capaz de me reconhecer...
Há alguns meses, percebi que eu
vinha me machucando fortemente em algumas relações. Inclusive, aqui faço um
adendo ao dizer que não me coloco como uma vítima ou um alecrim dourado que é
incapaz de machucar alguém. Por mais que a gente evite, por mais que a gente
não queira, inevitavelmente acabamos fazendo isso em algum momento (e agradeço
aqui à minha amiga Fábia por ter
dito isso em uma das nossas intermináveis conversas divertidas).
Voltando à minha reflexão...
Percebi que eu tentava, de algum modo, me encaixar em certos espaços. Percebi
que, muitas vezes, eu silenciava as minhas dores pelo medo do que os outros
diriam, pelo medo de não me compreenderem, de me julgarem, de não me
aceitarem... É engraçado que eu sempre tentei ser aquela pessoa aberta ao
diálogo, aquela que escuta, aquela que tenta mudar diante dos próprios
defeitos, que tenta não machucar os outros... Não que eu seja nenhum alecrim
dourado (risos). Só que essa era uma vontade minha... Eu não queria fazer aos
outros aquilo que me fizeram.
Foi então que me vi confrontado
com a realidade, com as expectativas frustradas, com as relações não
necessariamente recíprocas... Com um mundo real, onde todos nós erramos
constantemente. Não acredito que ninguém deva ser obrigado a ouvir o outro, a
mudar apenas porque machuca um outro alguém – por mais que tentasse fazer isso
em mim mesmo! –, mas acho que se abrir ao diálogo, à escuta do que pode vir a ferir
o outro, seja um requisito básico das relações humanas... Algo necessário...
Algo gentil... Só que, nem sempre, as pessoas estão preparadas para isso. Nem
sempre elas querem nos ouvir, nem sempre elas querem sair da redoma de vidro em
que vivem e acolher aquilo que a outra pessoa traz... Acho que, até mesmo eu,
que tenho tentado ser um bom amigo há muito tempo, ainda assim, cometa tais
erros. É natural... Somos humanos... Não somos perfeitos.
Em meio a isso tudo, percebi
que, enquanto eu tentava ser bom para os outros, muitas vezes eu estava sendo
ruim comigo mesmo, cruel – mais do que qualquer outra pessoa poderia ser. Eu me
silenciei... Calei as minhas dores, as minhas angústias... Me vi com medo de me
abrir, de dizer o que sentia, o que me feria... Tentava colocar em cena um
personagem perfeito e sem erros, o bom amigo, sempre disponível, sempre
disposto, que de nada reclamava... Percebi que eu era o meu próprio
antagonista. Enquanto tentava ser bom para os outros, passei a deixar de ser
bom para mim. E fui me ferindo... Cada vez mais.
Hoje o que eu desejo é poder aliviar essa angústia que está aqui dentro. Quero poder me olhar, cada vez mais, com gentileza, com cuidado, com amor... Quero não mais esquecer de mim, não mais me silenciar... Quero amizades e amores onde eu possa ser eu mesmo, onde eu não precise pisar em ovos, onde possamos errar e acertar, onde possamos nos ouvir, encontrar alternativas para seguir juntos ou, então, para dizer adeus. É difícil fazer isso... Mas não creio que essa seja uma tarefa impossível. Então... Que eu possa, cada vez mais, me amar... E seguir em frente sem machucar não apenas aos outros, mas a mim também.
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